Vou começar sendo bem direto com você: provavelmente você está errado com seus investimentos. Eu digo isso porque, na maioria das vezes, quando começamos a investir, estamos obcecados por uma única coisa: retorno. Queremos aquele ativo que vai multiplicar o patrimônio rapidamente. Mas eu vou te provar, com dados e matemática, que correr atrás apenas do retorno máximo geralmente piora seu resultado no médio e longo prazo. O segredo que os grandes investidores já descobriram não é a rentabilidade explosiva, é a consistência.

E não vou ficar apenas na teoria. Vou te apresentar uma classe de ativos que está brilhando este ano e que historicamente bate o CDI com folga: os pré-fixados de curto prazo. Para você ter uma ideia, em 2025, algumas opções dessa categoria já entregaram quase 20% de retorno, enquanto o CDI ficou na casa dos 12%. E o melhor: com risco controlado. Mas antes de te falar quais ativos são esses, preciso que você entenda por que a busca cega por lucro pode destruir seu patrimônio.

O Perigo de Ignorar o Risco Matemático

Quando eu era mais jovem, eu queria ter muito dinheiro rápido. Queria a mansão, o carro importado, o relógio caro. Com o tempo, percebi que o dinheiro serve para trazer conforto e tempo com a família, não apenas status. Nos investimentos, a lógica é parecida. Se você busca um retorno muito elevado em curto espaço de tempo, invariavelmente está correndo um risco proporcionalmente alto.

O problema é que a matemática joga contra quem perde dinheiro. Se você investe em um ativo de alto risco e ele cai, a recuperação é muito mais difícil do que parece. O cenário negativo pesa muito mais do que o positivo. Veja a tabela abaixo para entender a matemática cruel da recuperação de perdas:

Queda do Patrimônio Patrimônio Restante (Ex: R$ 500,00) Alta Necessária para Recuperar
-10% R$ 450,00 +11,11%
-20% R$ 400,00 +25%
-40% R$ 300,00 +66,66%
-50% R$ 250,00 +100%
-80% R$ 100,00 +400%

Percebeu a armadilha? Se você perde 50% do seu capital, não basta ganhar 50% de volta; você precisa de 100% de rentabilidade apenas para ficar no zero a zero. É por isso que evitar grandes perdas é mais importante do que acertar a “grande tacada”.

A Ilusão da Média: Por que a Consistência Vence

Nosso cérebro tende a nos enganar usando a média simples. Vamos imaginar dois cenários de investimento ao longo de 8 anos, começando com R$ 500.000,00. No Cenário 1, temos um ativo volátil (muito risco), que alterna entre grandes lucros (+120%) e prejuízos (-30%). No Cenário 2, temos um ativo consistente, que rende sempre entre 8% e 15%, sem grandes sustos.

Se você fizer uma média simples, o Cenário 1 parece melhor (média de 15,63% ao ano contra 11,13% do Cenário 2). Mas o retorno real conta uma história diferente:

Comparativo Cenário 1 (Volátil) Cenário 2 (Consistente)
Investimento Inicial R$ 500.000,00 R$ 500.000,00
Média Simples (Errada) 15,63% 11,13%
Patrimônio Final Real R$ 972.000,00 R$ 1.160.000,00
Retorno Médio Real (CAGR) 8,68% a.a. 11,10% a.a.

O ativo consistente gerou quase R$ 200.000,00 a mais de lucro, mesmo tendo uma “média simples” menor. Isso prova que a consistência protege seu dinheiro dos efeitos devastadores dos juros compostos negativos. É aqui que entram os títulos prefixados bem selecionados.

A Força dos Pré-Fixados de Curto Prazo

Agora que você entendeu o valor da consistência, qual ativo entrega isso superando o CDI (o benchmark de baixo risco do Brasil)? A resposta está nos pré-fixados de curto prazo (com vencimento médio ao redor de 3 anos). Diferente dos títulos longos, que sofrem muito com a marcação a mercado, os curtos oferecem uma relação risco-retorno excepcional.

Fizemos um estudo de janelas móveis (analisando todos os períodos possíveis dia após dia desde 2005) comparando um índice de pré-fixados curtos (como o IDkA Pré 3 anos ou IRF-M P3) contra o CDI. O resultado é avassalador:

Período de Investimento Vitórias dos Pré-Fixados Vitórias do CDI
Janelas de 1 Ano 62% das vezes 38% das vezes
Janelas de 3 Anos 70% das vezes 30% das vezes
Janelas de 5 Anos 87% das vezes 13% das vezes

Quanto mais tempo você carrega esses títulos na carteira, maior a chance de bater o CDI. Em janelas de 5 anos, a média de retorno dos pré-fixados foi de 76%, contra 57% do CDI. É um banho de rentabilidade com uma consistência que poucos ativos de renda variável conseguem entregar.

Como Investir Nisso na Prática?

Você não precisa comprar dezenas de títulos individuais e ficar gerenciando vencimentos. Existem ETFs (Fundo de Índice) que replicam exatamente esses índices de pré-fixados de curto prazo. Dois exemplos que gosto e que replicam essas carteiras teóricas são:

  • IDKA11: Replica o índice IDkA Pré 3 Anos.
  • FIXA11: Replica o índice de futuros de taxas de juros, com comportamento muito semelhante.

Em 18 anos de histórico desses índices, houve apenas 3 anos com rentabilidade negativa, e todas foram quedas pequenas (a pior foi -5,68%), enquanto os anos positivos chegaram a superar 30%. Isso é a definição de assimetria favorável: quando perde, perde pouco; quando ganha, ganha muito.

Se você quer parar de girar patrimônio e começar a construir riqueza de verdade, pare de buscar a “dica quente” de retorno explosivo e comece a olhar para a consistência matemática desses ativos.

Estrategista da Finclass e especialista em renda fixa do time de analistas. Bacharel em Economia pela FGV e pela Nova School of Business and Economics, tem experiência na gestão de fundos de investimento de renda fixa, crédito privado e multimercado.