Hoje você finalmente vai entender o que é a marcação a mercado. Se você já se perguntou como é possível perder dinheiro na Renda Fixa ou, melhor ainda, como alguns investidores conseguem lucros exorbitantes em pouco tempo com títulos públicos, este artigo é para você. Vou dividir nossa conversa em quatro partes essenciais para que você nunca mais tenha dúvidas sobre como funciona esse mecanismo, como usar a oscilação das taxas a seu favor e, claro, como evitar prejuízos comprando no momento errado.
Vamos passar pelos três “mundos” da Renda Fixa, usar uma analogia simples (que não exige matemática complexa) para destravar esse conceito na sua mente e analisar casos reais de quem colocou muito dinheiro no bolso aproveitando as janelas de oportunidade que o mercado oferece.
Os Três Mundos da Renda Fixa
Para começar, imagine o “planeta” da Renda Fixa dividido em três grandes continentes. É fundamental entender que todo investimento nessa categoria é, no final das contas, um empréstimo. Você está emprestando seu dinheiro para o governo (via Tesouro Direto), para bancos ou para empresas. Assim como em um financiamento imobiliário, onde o banco te oferece opções de juros, aqui você tem três formas de ser remunerado:
- Pós-fixados: A rentabilidade segue uma taxa que varia diariamente, como a Selic ou o CDI.
- Prefixados: A taxa é definida no momento da compra (ex: 12% ao ano), independentemente do que aconteça com a economia.
- Indexados à Inflação (IPCA+): Uma parte do rendimento é fixa e a outra parte corrige seu dinheiro pela inflação.
O ponto crucial aqui é: os títulos pós-fixados (como o Tesouro Selic) não sofrem com a volatilidade da marcação a mercado da mesma forma que os outros. Se a taxa Selic cai de 15% para 10%, seu título não desvaloriza; ele apenas passa a render um pouco menos a partir daquele dia. O gráfico de crescimento continua subindo, apenas em uma velocidade menor. A verdadeira “mágica” (e o risco) acontece nos outros dois continentes: os Prefixados e os indexados à inflação.
A Analogia do Contrato de Trabalho
Para entender por que o preço dos títulos Prefixados e IPCA+ oscila tanto, vamos usar uma analogia que eu gosto muito: o contrato de trabalho. Imagine que eu queira te contratar hoje com uma proposta irrecusável.
Eu ofereço um contrato de 10 anos, pagando R$ 500.000 por ano. Você faz a conta rápida: em 10 anos, sua remuneração total será de R$ 5 milhões. Você aceita e assina o contrato. Isso é um título prefixado: você travou sua taxa (seu salário) naquele valor alto.
Agora, imagine que, no dia seguinte, o mercado muda. Tem muita gente qualificada aceitando trabalhar por menos. Eu passo a oferecer esse mesmo contrato de 10 anos para novos funcionários, mas pagando apenas R$ 300.000 por ano. Você, que tem o contrato antigo de R$ 500 mil, está em uma posição privilegiada. Seu contrato vale muito mais do que os novos.
Se eu quisesse mudar seu contrato para se igualar aos novos (de R$ 300 mil), eu precisaria te compensar pela diferença. A diferença é de R$ 200 mil por ano. Eu teria que antecipar esse valor e depositar na sua conta hoje. Essa antecipação gera um pagamento enorme à vista. No mundo dos investimentos, isso é a marcação a mercado positiva: quando a taxa de juros do mercado cai (de 500k para 300k), o preço do seu título (o valor do seu contrato) sobe drasticamente porque ele antecipa os rendimentos futuros.
O Efeito Matemático nas Taxas
Trazendo para a realidade dos títulos públicos, a lógica é a mesma. Se você compra um título prefixado que paga 15% ao ano e, no dia seguinte, a taxa de mercado cai para 10%, seu título se valoriza imediatamente. O mercado antecipa a diferença de rentabilidade dos anos futuros para o valor presente do título.
| Cenário | Taxa Contratada | Nova Taxa de Mercado | Efeito no Preço do Título |
|---|---|---|---|
| Queda de Juros | 15% ao ano | 10% ao ano | Valorização Acentuada (Você ganha capital) |
| Alta de Juros | 15% ao ano | 20% ao ano | Desvalorização Momentânea (Você vê prejuízo na tela) |
Se a taxa sobe (o cenário ruim), acontece o inverso. Se você travou 15% e o mercado agora paga 20%, seu título perde valor “hoje” para compensar essa diferença, de modo que quem comprar seu título agora receba os 20% do mercado. Porém, se você segurar o título até o vencimento, você receberá exatamente o que contratou. A perda é apenas se você vender antes da hora. Se você quiser se aprofundar em como a inflação impacta seus ganhos reais, leia nosso artigo completo sobre o Tesouro IPCA.
O Poder da “Duration” (Duração)
Um conceito que você precisa dominar é a Duration. Basicamente, quanto maior o prazo do título, mais sensível ele é à marcação a mercado. Um título que vence em 2050 vai oscilar muito mais agressivamente com uma pequena mudança na taxa de juros do que um título que vence em 2026.
Veja a simulação de impacto em diferentes prazos caso a taxa caia:
| Movimento da Taxa | Prazo do Título (Vencimento) | Estimativa de Valorização |
|---|---|---|
| Queda de 0,20% | 10 Anos | + 2% |
| Queda de 0,20% | 30 Anos | + 6% |
| Queda de 4,50% | 10 Anos | + 45% |
| Queda de 4,50% | 30 Anos | + 145% |
Isso explica por que investidores experientes buscam títulos longos em momentos de estresse econômico (quando as taxas estão altíssimas). Eles travam taxas altas por 20 ou 30 anos e, quando a economia melhora e os juros caem, esses títulos explodem de valor.
Caso Real: Lucros de R$ 1 Milhão em 3 Meses
Para provar que isso não é apenas teoria, trago um exemplo real recente. Quando as taxas dos títulos públicos atingiram picos históricos (como IPCA + 6,5% ou 7%), recomendados a compra de títulos longos, como o Tesouro Renda Mais 2065. O Thiago Nigro (Primo Rico), seguindo essa lógica, investiu cerca de R$ 4 milhões nesse ativo.
O resultado? Em menos de três meses, com uma leve queda na taxa de juros futura (fechamento da curva), o título se valorizou expressivamente. O ganho nominal dele já estava na casa de R$ 1 milhão (aproximadamente 25% de rentabilidade) em um curtíssimo espaço de tempo. E não foi só ele; diversos membros da equipe que seguiram a estratégia também viram seus aportes de R$ 100 mil ou R$ 300 mil renderem 15%, 20% em questão de meses, superando em muito o CDI.