nov, 2025 Investimentos

Free float: o que significa, como funciona e como calcular

Luiz Guilherme Aboim

Antes de comprar qualquer ação, é altamente recomendado que investidores analisem uma série de fatores para definir se o ativo vale a pena ou não – considerando, é claro, os objetivos financeiros, o horizonte financeiro e o grau de tolerância ao risco de cada um.

Um desses fatores é o free float. Essa informação aparece nos relatórios de empresas com capital aberto na bolsa de valores e, entre outros propósitos, é uma maneira de analisar o grau de liquidez de determinada ação.

Neste artigo, explicaremos em detalhes o que é o free float e por que é um indicador importante a ser considerado na análise de uma empresa.

O que significa o termo free float?

Free float é o termo usado para se referir à parcela de ações de uma empresa que está disponível para negociação no mercado. Ou seja, aquelas que não pertencem a acionistas controladores, diretores e fundadores, ou que estejam sob alguma restrição.

Essa informação serve como indicador, já que mostra quão “aberta” a estrutura acionária de uma companhia está para os investidores. Quanto maior a fração de ações em circulação (ou seja, quanto maior o free float), maior a extensão pública dessa empresa e menor a concentração controladora. Por isso, a porcentagem ajuda a entender mais sobre liquidez, volatilidade e risco societário.

Curiosidade: free float (flutuação livre, em tradução literal) é um termo utilizado justamente porque se refere a uma parte do capital social de uma empresa que pode “flutuar” de forma livre entre os investidores.

Como funciona o free float?

O conceito de free float funciona como uma medida da real disponibilidade de ações no mercado – isto é, quantas podem ser compradas ou vendidas livremente no pregão. Quanto menor essa fração, maior pode ser a influência sobre a precificação do ativo, já que uma oferta ou demanda relativamente pequena pode provocar variações mais abruptas no preço.

Na prática, o free float atua como indicador em três dimensões principais:

  • Liquidez: indica se é mais difícil comprar ou vender grandes quantidades sem um impacto significativo na cotação;
  • Volatilidade: menos ações disponíveis podem provocar movimentos maiores de preço;
  • Governança e estrutura acionária: o nível de free float oferece pistas sobre o grau de dispersão acionária e o poder de ação dos controladores da empresa.

É importante reforçar que, embora o free float funcione como um indicador relevante na hora de avaliar uma ação, ele não deve ser o único critério a ser observado. Esse tipo de análise envolve vários outros aspectos também, como o desempenho financeiro da empresa, o contexto setorial, e fatores de governança corporativa. 

Por que observar o free float antes de comprar ações? 

Como o free float funciona como um termômetro de liquidez e dispersão acionária, ele ajuda você a ter uma visão mais clara sobre:

  • O volume de negociação de determinada ação;
  • A relação entre a precificação e o sentimento de mercado;
  • O nível de volatilidade do ativo.

Abaixo, explicamos cada justificativa pela qual o free float figura em análises de ações.

Composição de índices de mercado

Nos principais índices da Bolsa, como o Ibovespa e o IBrX-50, apenas as ações efetivamente disponíveis para negociação entram no cálculo do peso de cada empresa – ou seja, aquelas em free float. 

Isso significa que essa informação serve como um filtro: quanto maior a parcela de ativos em circulação, maior tende a ser a representatividade da companhia dentro desses índices. 

Com essa metodologia, é possível ter uma noção mais precisa do comportamento real do mercado, já que empresas com grande parte das ações concentradas em controladores dificilmente expressam o sentimento coletivo dos investidores

Além disso, um bom nível de free float pode tornar uma ação mais atraente para fundos de índice e investidores institucionais que replicam essas carteiras – ponto que amplia o interesse e a visibilidade da ação.

Liquidez

A proporção de ações livres em circulação aponta o quão fácil é comprar e vender o ativo sem distorcer o preço de mercado

Quando há muitos investidores negociando entre si, o fluxo de ordens é mais estável, então a variação de preço tende a ser menor entre uma operação e outra. Por outro lado, em empresas com poucos papéis disponíveis, a mudança na cotação pode ser mais abrupta até mesmo em negociações de menor porte, pois há poucos potenciais compradores ou vendedores. 

Em termos mais simples, nesse aspecto o free float se soma a outros aspectos para ajudar a entender se determinado ativo possui um mercado dinâmico, com boa liquidez diária, ou se tende a ser mais restrito.

Governança corporativa

Sob o prisma da governança, o free float funciona como um indicador de abertura societária e boas práticas de gestão. 

Quando ele é alto, isso indica que a base acionária está mais dispersa – ou seja, a participação está diluída entre muitos investidores –, o que geralmente aponta para maior equilíbrio e transparência na tomada de decisões da empresa. Com um capital menos concentrado, cresce o escrutínio sobre a administração e diminui a possibilidade de decisões unilaterais por parte do acionista controlador. 

Por outro lado, em empresas com participação acionária muito concentrada, o poder decisório tende a estar nas mãos de poucos, o que pode reduzir a proteção dos minoritários e aumentar riscos de governança.

Volatilidade

Em empresas com grande volume de ações em circulação, o impacto de uma compra ou venda relevante é diluído – aqui, o resultado tende a ser oscilações mais suaves e previsíveis. 

Em contrapartida, quando o número de ações negociáveis é pequeno, qualquer movimentação mais expressiva pode gerar saltos substanciais nas cotações, o que tornaria um ativo mais arriscado no curto prazo. 

Nesse sentido, o free float se relaciona diretamente com a volatilidade: quanto menor for a fração de ações “livres”, maior a sensibilidade da cotação a movimentos de oferta/demanda.

Free float ON x PN

No Brasil, as empresas costumam emitir dois tipos principais de ações: ordinárias (ON) e preferenciais (PN). As ON conferem direito de voto ao acionista em assembleias gerais, enquanto as PN dão prioridade no recebimento de dividendos ou reembolso de capital, mas geralmente não dão direito a voto. 

Quando o free float das ações ON é elevado, há maior número de acionistas com direito a voto participando do mercado, o que tende a favorecer a transparência e a fiscalização da administração.

Por outro lado, um free float baixo nas ON e alto nas PN indica que a maior parte das ações com direito a voto está concentrada em poucos controladores, enquanto as ações negociadas livremente (PN) ficam restritas ao público sem influência sobre as decisões da empresa. Isso cria um cenário em que a liquidez até pode ser alta, mas o controle permanece centralizado – o que pode elevar riscos de governança.

Na hora de analisar o free float de companhias com ações ON e PN, é recomendado observar:

  • O percentual de ações ON e PN em circulação, para identificar onde há maior dispersão acionária;
  • A liquidez de cada classe, já que as PN costumam ser mais negociadas justamente por não envolverem direito de voto;
  • O impacto na governança, pois empresas com maior circulação de ON tende a apresentar mais acionistas com direito de voto participando do mercado, o que favorece transparência e fiscalização.

 

Free float x tag along

Primeiramente, saiba que o tag along é um direito dos acionistas minoritários em empresas de capital aberto que garante proteção em caso de venda do controle da companhia. O tag along garante ao acionista minoritário detentor de ações ordinárias receber o mesmo valor por ação pago ao controlador (ou no mínimo 80%).

A ligação entre o free float e o tag along é a seguinte: uma empresa com free float elevado tende a ter uma base mais diversificada de acionistas, o que pode aumentar a pressão por melhores práticas de governança, inclusive por direitos como o tag along.

Por outro lado, se o free float for muito baixo, ou seja, quando poucas ações estão em circulação e a maior parte do capital está concentrada nas mãos do controlador, os acionistas minoritários tendem a ficar mais expostos em eventuais mudanças de controle, dado o elevado grau de concentração de poder e de decisões. 

Nessas situações, o risco de fechamento de capital também aumenta, já que o controlador consegue adquirir com facilidade as ações remanescentes no mercado, o que reduz a relevância prática do tag along para muitos investidores.

Atenção: nem o free float, nem o tag along devem ser observados de forma isolada. Uma análise completa não apenas inclui os dois conceitos, como também considera outros indicadores também, além de especificidades do momento econômico em questão e do setor no qual a empresa atua.

Como saber o free float de uma empresa?

Para saber o free float de uma empresa brasileira, você pode consultar:

  • O site da B3;
  • Os relatórios de Relações com Investidores (RI) de cada companhia.

Ambas as fontes são oficiais e também mostram a estrutura acionária completa de uma empresa, além de informações como a quantidade total de ações emitidas, o percentual em circulação no mercado, o tipo de ações (ON e PN) e dados sobre o tag along ou a participação dos principais acionistas.

Quanto é um bom free float de uma empresa?

Não existe um número universal que se aplique igualmente a todas as empresas, apenas orientações e percepções de mercado sobre o que se considera um free float adequado.

É crucial que o free float seja analisado no contexto da companhia, levando em conta:

  • Setor de atuação; 
  • Porte da empresa; 
  • Estrutura acionária;
  • Perfil da pessoa investidora.

Em linhas gerais, valores maiores de free float tendem a ser melhores para os acionistas minoritários, já que indicam maior liquidez, menor risco de concentração e melhor governança. 

No entanto, uma empresa menor, com estrutura mais concentrada, pode naturalmente ter um free float menor, mas isso não a torna automaticamente ruim – desde que os investidores estejam cientes do risco adicional inerente à menor dispersão acionária.

Aqui vão algumas considerações que precisam ser feitas na hora de avaliar o free float de uma companhia:

  • Comparação com empresas do mesmo setor ou portes semelhantes;
  • Histórico da empresa; 
  • Estruturas de controle acionário;
  • Liquidez do papel no mercado (volumes negociados).

Há um valor mínimo para o free float?

Para companhias pertencentes ao Novo Mercado, Nível 2 e Nível 1, sim. Desde fevereiro de 2023, a B3 definiu que o percentual mínimo de ações em free float para empresas listadas nesses segmentos especiais é de 20% do capital social, em vez dos 25% exigidos anteriormente.

Em alguns casos específicos, esse percentual pode ser temporariamente reduzido para 15% nos primeiros 18 meses após o IPO, desde que a empresa atenda a certos critérios, como volume de oferta pública ou média diária de negociação.

Importante: essas são regras de “mínimo exigido” são apenas para fins de listagem em determinados segmentos, ou seja, não significa que uma empresa com free float abaixo desses patamares seja automaticamente inviável como investimento.

Como calcular o free float de uma empresa?

Para calcular o free float de uma companhia, subtraem-se as ações restritas do total de ações em circulação. Depois, transforma-se esse número em percentual, dividindo o resultado pelo total de ações e multiplicando por 100.

Observe o exemplo:

Item Valor
Total de ações emitidas 1.000.000
Ações de controladores + insiders 300.000
Ações em tesouraria/restritas 50.000
Ações livres (free float) 650.000
Free float (%) 65%

Insiders refere-se às pessoas consideradas “internas” ou que têm acesso privilegiado à empresa, geralmente por ocuparem cargos de direção ou por possuírem participação relevante. 

Mais precisamente, um insider é um executivo, diretor, membro da administração ou acionista com influência significativa, com direito a voto ou com acesso a informações materiais não públicas da empresa.

Em termos de estrutura de capital para cálculo de free float, insider implica aquelas ações que pertencem a esses indivíduos, que normalmente não entram no cálculo de papéis “livres para negociação”, porque sua alienação não reflete a negociação típica do mercado aberto.

Atenção: na dúvida, recomendamos que prefira checar o free float de uma empresa no site da B3 ou em sua página de Relações com os Investidores (RI). Afinal, qualquer informação errada na fórmula pode te levar a um erro de cálculo e, consequentemente, a uma análise equivocada.

Recapitulando os pontos mais importantes…

O free float mostra quanto do capital social de uma empresa está efetivamente em circulação no mercado, nas mãos de investidores que podem comprar e vender livremente essa parte das ações. 

Por isso, ele acaba sendo um termômetro da liquidez e da governança corporativa — em geral, quanto maior a quantia de ações disponíveis, mais ativo tende a ser o papel e mais pulverizado o controle da companhia.

Na prática, acompanhar o free float pode te ajudar a entender se há espaço para movimentações expressivas no mercado secundário e qual o grau de participação dos acionistas minoritários nas decisões. Um equilíbrio entre controle e dispersão é o cenário ideal — garante estabilidade, mas também transparência e liquidez para o investidor comum.

E não se esqueça: jamais analise um indicador de forma isolada!

Aprenda tudo o que precisa sobre investimentos

Se aprender sobre o free float te ajudou a ter uma noção mais clara de como analisar uma empresa antes de investir, recomendamos que siga essa jornada de aprendizado. 

No Investimentos.com.br, você encontra outros artigos como este, que vão te guiar na hora de investir de maneira mais inteligente.

Economista, especialista em valuation. Professor convidado do Coppead/UFRJ, FGV e Faculdade HUB. É sócio-fundador da ConfianceTec e da Escola de Finanças Aboim.
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