Na última semana, o Banco do Brasil divulgou os resultados referentes ao terceiro trimestre deste ano e, para ser bem direto com você, os números foram assustadores. O lucro líquido caiu 60%, o ROE recuou para níveis que não víamos há quase uma década e a inadimplência continua pressionando forte, tanto no agro quanto na pessoa física. O cenário de otimismo total de 2023 virou cautela absoluta em 2025. Diante disso, a pergunta que não quer calar é: será que chegamos ao fundo do poço? E, mais importante, ainda vale a pena investir no Banco do Brasil agora? É exatamente isso que vamos analisar hoje.

Do Céu ao Inferno: A Virada de Narrativa

Antes de entendermos o tamanho do problema atual, precisamos lembrar de onde viemos. Até pouco tempo atrás, o Banco do Brasil vivia um dos períodos mais positivos da sua história, acumulando recordes de lucro e entregando uma carteira extremamente saudável. Analistas de mercado, como os da XP, chegavam a projetar altas de quase 50% para o papel. O banco parecia estar “voando”, surfando um ciclo favorável do agronegócio e sendo visto como uma oportunidade óbvia por estar descontado.

No entanto, essa narrativa virou de ponta-cabeça em poucos meses. O lucro começou a tombar, a inadimplência disparou e o guidance (as projeções do próprio banco) precisou ser revisto para baixo pela segunda vez no ano. Para entender o que aconteceu, precisamos olhar além da última linha do balanço e focar nos fatores que estão corroendo o resultado trimestre após trimestre.

Os Números que Assustam

Quando olhamos para o lucro líquido, a queda é brutal. Saímos de 9,5 bilhões no terceiro trimestre de 2024 para apenas 3,8 bilhões agora. Mas existe um detalhe contábil que torna tudo ainda pior: o efeito dos impostos. No trimestre passado, o banco pagou impostos; neste, recebeu créditos tributários. Se ajustarmos para um lucro recorrente real, o resultado cairia para algo próximo de 1,6 bilhão. Ou seja, a situação operacional é mais delicada do que o número final sugere.

O Vilão da Vez: A Crise no Agronegócio

O Banco do Brasil é, de longe, o maior financiador do agronegócio brasileiro. Historicamente, isso sempre foi uma vantagem competitiva imensa, pois o agro era um setor de inadimplência baixíssima e previsível. Porém, o clima jogou contra. O fenômeno El Niño elevou temperaturas, alterou regimes de chuva e causou uma quebra de safra de 7,2%, segundo dados oficiais do IBGE.

Essa quebra atingiu em cheio os pequenos e médios produtores, que são o coração da carteira do BB. O resultado prático disso aparece nos dados de inadimplência (NPL – Non Performing Loans) e Recuperações Judiciais (RJs), que explodiram:

  • Inadimplência do Agro: Saltou de 1,97% para 5,34% em apenas um ano (quase 200% de alta).
  • Novos NPLs: O banco registrou R$ 8,75 bilhões em empréstimos que deixaram de ser pagos.
  • Recuperações Judiciais: O número de produtores em RJ saltou de 608 para 928 casos.

Além do problema climático, 2025 trouxe um agravante regulatório: a Resolução 4.966. Essa nova regra contábil tornou a classificação de risco muito mais rígida. Agora, créditos problemáticos exigem provisões muito maiores e mais rápidas, que são descontadas diretamente do lucro como custo.

Banco do Brasil vs. Concorrência: Quem está ganhando?

Enquanto o BB luta para estancar a sangria e revisa suas metas para baixo, os concorrentes privados estão nadando de braçada, apresentando crescimentos robustos mesmo em um cenário econômico desafiador. A diferença de desempenho fica gritante quando colocamos os números lado a lado:

Instituição Lucro (3º Tri) Crescimento (vs. Ano Anterior)
Itaú R$ 11,9 bilhões + 11,0%
Bradesco R$ 6,2 bilhões + 18,8%
Santander R$ 4,0 bilhões + 9,4%
BTG Pactual R$ 8,8 bilhões + 37,0%
Nubank R$ 4,1 bilhões + 39,0%
Banco do Brasil R$ 3,8 bilhões – 60,0%

Essa tabela mostra claramente que o BB ficou para trás neste ciclo. E isso impacta diretamente um indicador fundamental para nós, investidores: o Retorno Sobre o Patrimônio Líquido. O ROE do banco caiu para 8,4%, enquanto pares como o Nubank entregam 31% e o BTG 28%. Se você quer entender melhor como esse indicador funciona e por que ele é vital para sua análise, recomendo que leia nosso artigo sobre retorno sobre patrimônio líquido.

Parece Barato, mas é uma Cilada?

Diante de tudo isso, muitos olham para os múltiplos e dizem: “Mas Bruno, o banco está muito barato!”. De fato, negociar abaixo de 6 vezes o lucro e com um Preço sobre Valor Patrimonial (P/VP) de 0,7 chama a atenção. Teoricamente, você está comprando 1 real de patrimônio por 70 centavos. Mas aqui mora um perigo.

O patrimônio líquido de um banco é composto, em grande parte, por sua carteira de empréstimos. Se esses empréstimos não forem pagos (inadimplência), esse patrimônio diminui. O mercado pode estar precificando o banco com desconto justamente porque acredita que o patrimônio real valerá menos no futuro devido aos calotes. Além disso, com o lucro menor e a necessidade de preservar capital, a diretoria já sinalizou que será mais “prudente” nos dividendos. Ou seja: espere proventos menores.

Uma Lição Pessoal: O Caso Bradesco

Eu já caí nessa armadilha de “comprar o que caiu demais” esperando uma recuperação rápida. Tempos atrás, eu vendi Itaú (Itaúsa) para comprar Bradesco, quando este último passava por uma crise de inadimplência similar. Eu pensei: “O Bradesco caiu muito, a recuperação vai me dar muito mais dinheiro do que o Itaú, que está estável”.

A realidade? O Bradesco até recuperou um pouco, mas demorou muito mais do que eu esperava. Se eu tivesse ficado quieto em Itaú, teria ganhado mais dinheiro e com muito menos dor de cabeça. No mercado financeiro, o custo de oportunidade é real. Não basta o ativo subir; ele precisa subir mais do que as outras opções de qualidade que você tem à disposição.

Veredito: Eu Fico de Fora

Olhando para a discrepância de resultados, a piora na qualidade do crédito e o fato de que a recuperação do agro pode ser lenta, eu, particularmente, prefiro ficar de fora de investir no Banco do Brasil neste momento. Acredito que o pior pode ainda não ter passado e que existem outros bancos no mercado entregando crescimento consistente e rentabilidade muito superior.

Não estou dizendo que o banco vai quebrar — ele continua sendo uma instituição sólida e centenária — mas “não quebrar” não é motivo suficiente para comprar uma ação. Prefiro estar posicionado em empresas que estão ganhando o jogo, e não naquelas que estão lutando para não perder.

E você, concorda com essa visão ou acha que o desconto atual é uma oportunidade imperdível? Lembre-se que investir exige conhecimento e estratégia.

Fundador do canal “Você MAIS Rico” e do curso “Viver de Renda”, sócio-fundador do Grupo Primo e um dos apresentadores do podcast “Os Sócios”, é empreendedor, investidor e uma das maiores referências de finanças no Brasil.