Você realmente precisa investir no exterior? Essa é uma pergunta que gera debates acalorados. De um lado, alguns dizem que é indispensável dolarizar o patrimônio para ter segurança. Do outro, há quem garanta que dá para ganhar muito dinheiro ficando apenas no Brasil. Hoje, eu quero te mostrar que, por trás das opiniões, existem números e fatos que explicam por que investir lá fora é essencial, eu diria até obrigatório.

Muitas vezes, a memória do investidor é curta. Nós nos apegamos a cenários recentes e esquecemos o histórico de longo prazo. O objetivo deste artigo é analisar dados frios — muito além do câmbio ou da performance de um único ano — para provar que, embora o Brasil tenha oportunidades táticas, a construção de riqueza sólida exige uma estratégia global.

O Cenário Recente e a Ilusão de Curto Prazo

O cenário de 2025 é um ótimo exemplo para começarmos essa conversa. Recentemente, vimos o dólar recuar cerca de 14,21%, enquanto o Ibovespa subiu 13,86%. Se olharmos para o EWZ (o ETF que representa nossa bolsa em dólares), a alta foi de impressionantes 25,1%, superando até mesmo o S&P 500 e o Nasdaq no curto prazo.

O curioso é que isso acontece em um cenário que, na teoria, jogaria contra: risco fiscal crescente, governo gastando mais do que arrecada e a Selic em patamares elevados. É natural que, vendo esses números recentes, muita gente pense que a decisão de investir no exterior foi um erro. Mas cuidado: o mercado é cíclico e o Brasil é um “bicho diferente”.

Brasil: O País das Oportunidades Táticas

Não vou mentir para você: o Brasil já viveu fases onde parecia impossível perder dinheiro por aqui. Fomos chamados de “o país das oportunidades” e, em certos momentos, isso foi verdade. Um exemplo clássico foi o período do “boom das commodities”.

Entre 2000 e meados de 2008, o Brasil viveu um alinhamento raro de astros: recuperação global, explosão da demanda chinesa e controle da dívida interna. Veja como nossa bolsa performou em comparação aos EUA nesse período específico:

Índice Performance (2000 – Maio/2008)
S&P 500 (EUA) + 8,2%
EWZ (Brasil em Dólar) + 421,48%

Nessa época, o dólar caiu de quase R$ 4,00 para R$ 1,57. Parecia que finalmente o Brasil tinha decolado. Mas esses ganhos vieram acompanhados de uma volatilidade extrema. Quem não soube a hora de sair, devolveu boa parte desse lucro nas crises seguintes.

A Realidade dos Números no Longo Prazo

A grande questão é que, para o investidor pessoa física, a consistência costuma valer mais do que surtos de euforia seguidos de quedas brutais. Se ampliarmos a janela de observação e compararmos os últimos 25 anos, a narrativa muda completamente.

O Ibovespa em reais teve uma valorização nominal expressiva, mas quando ajustamos para a moeda forte — que é como a riqueza global é medida —, o resultado é muito inferior ao mercado americano, que oscila menos e entrega mais.

Comparativo de Longo Prazo (Desde 2000 até hoje)

Ativo / Índice Valorização Acumulada
Ibovespa (em Reais) + 707,9%
S&P 500 (em Dólar) + 608,26%
Ibovespa (Dolarizado) + 168,16%

Perceba que, em dólares, nossa bolsa subiu muito menos do que o S&P 500. Além disso, o mercado americano apresentou quedas menos profundas e recuperações mais rápidas. A volatilidade brasileira expulsa o investidor iniciante, que vende no fundo por pânico e perde a recuperação.

O Risco da “Renda Fixa Garantida”

Muitos investidores argumentam: “Bruno, mas eu não invisto na bolsa brasileira, eu fico no CDI aproveitando os juros altos”. Essa é uma armadilha comum. O ganho nominal no Brasil é alto, mas o ganho real em moeda forte é pífio.

Se pegarmos os últimos 10 anos, o CDI acumulou cerca de 142% de retorno nominal. Parece ótimo, certo? Mas, ao ajustarmos esse valor pela desvalorização do Real frente ao Dólar, o retorno real cai para apenas 4% em uma década. Isso é o que você consegue em um único ano investindo em títulos públicos americanos (Treasuries), considerados o investimento mais seguro do mundo.

Para entender melhor como estruturar uma carteira segura fora do país, você pode conferir nosso guia sobre como investir no exterior.

Por que os EUA vencem no final?

A diferença brutal de desempenho não é sorte, é estrutural. Ao investir no exterior, você acessa setores que simplesmente não existem ou são irrelevantes no Brasil, como:

  • Tecnologia e Semicondutores: Empresas como Nvidia e Microsoft.
  • Biotecnologia e Saúde Avançada.
  • Defesa e Inteligência Artificial.

Vejamos a comparação na janela mais recente (2015 a 2024), onde a tecnologia impulsionou o mundo:

Índice Performance (2015 – 2024)
S&P 500 + 242,61%
Ibovespa (Dolarizado) + 7,83%

O mercado americano possui empresas que geram valor em escala global. Só a Apple vale mais do que todas as empresas da bolsa brasileira somadas. Patrimônio se mede em dólares, seja você um morador de São Paulo, Nova York ou Tóquio.

Conclusão: Proteja seu Patrimônio

O Brasil é um mercado tático: cheio de riscos, mas com ciclos de alta explosivos para quem acerta o “timing”. Já os Estados Unidos são um mercado estratégico: você investe para o longo prazo, com segurança jurídica e moeda forte.

Minha recomendação é clara: tire uma parte do seu patrimônio do país antes que o país tire o patrimônio de você — seja via inflação, desvalorização cambial ou instabilidade política.

Fundador do canal “Você MAIS Rico” e do curso “Viver de Renda”, sócio-fundador do Grupo Primo e um dos apresentadores do podcast “Os Sócios”, é empreendedor, investidor e uma das maiores referências de finanças no Brasil.