Você provavelmente conhece a sensação de conforto que o “Brasilzão” dos juros altos proporciona. Com a taxa Selic frequentemente na casa dos dois dígitos, é muito tentador deixar o dinheiro parado na Renda Fixa, sem correr riscos aparentes, achando que essa é a melhor estratégia do mundo. Mas hoje o papo é sério e pode mudar sua visão sobre construção de riqueza: eu preparei algumas alternativas de investimentos que batem o CDI ao longo dos anos e que você precisa conhecer se quiser parar de depender exclusivamente da economia brasileira para ganhar dinheiro.

A Armadilha da Dependência do CDI

O Brasil é, historicamente, o país da Renda Fixa. O juro alto é um mecanismo clássico que temos para nos defender da inflação, mas isso cria um efeito colateral perigoso: deixa o investidor brasileiro “preguiçoso” e mal acostumado. No entanto, precisamos lembrar que nem sempre o cenário é esse mar de rosas para os rentistas. Basta recordar a pandemia, quando a Selic chegou a 2% ao ano. Estamos em uma trajetória de queda de juros e, com o ano eleitoral de 2026 se aproximando e discussões sobre reformas, a volatilidade é certa. Se tudo der certo, teremos juros mais baixos no futuro, o que significa que você não poderá confiar no CDI para sempre da maneira que confia hoje.

O Que Realmente Ganha do CDI no Longo Prazo?

Para provar que existem caminhos mais rentáveis, analisei dados de um período longo, de 30 anos. O resultado é surpreendente para quem só olha para o seu banco local. Existem três classes de ativos internacionais que, historicamente, entregaram retornos superiores ao nosso CDI. Isso acontece devido a dois fatores principais: a valorização do dólar frente ao real e a apreciação dos próprios ativos (empresas como Microsoft, Tesla e Meta, que não temos na bolsa brasileira).

Abaixo, apresento um comparativo simplificado do desempenho histórico dessas classes em relação ao benchmark brasileiro:

Classe de Ativo Descrição Desempenho vs. CDI (30 Anos)
Ações Americanas (S&P 500) As maiores empresas dos EUA (considerando reinvestimento de dividendos). Superior (Venceu em aprox. 75% das janelas móveis)
REITs (Equity REITs) Os “primos gringos” dos nossos Fundos Imobiliários. Superior (Venceu em mais de 60% do tempo)
Ações Globais (MSCI World) Diversificação em empresas do mundo todo, não só EUA. Superior (Venceu em 55% das vezes)
CDI (Brasil) Taxa de referência da Renda Fixa brasileira. Inferior no acumulado de longo prazo

É importante notar que, embora o CDI tenha superado esses ativos em momentos específicos (como no início dos anos 2000, quando o dólar caiu muito), na maior parte do tempo, ter uma carteira dolarizada foi mais vantajoso. Ao investir no S&P 500 ou em REITs, você acessa uma categoria de empresas e uma moeda forte que protegem e multiplicam seu patrimônio com mais eficiência.

Nem Tão ao Céu, Nem Tão ao Inferno

Talvez agora você esteja pensando: “Então vou vender tudo e comprar apenas ações americanas!”. Calma, não vá com tanta sede ao pote. O segredo dos grandes investidores não é tentar acertar o “investimento do ano”, mas sim manter a consistência. O mercado é cíclico e a economia é dinâmica. O que foi o melhor investimento em um ano pode ser o pior no ano seguinte.

Veja como a liderança dos retornos muda drasticamente de um ano para o outro, baseando-se nos dados históricos do JP Morgan:

Ano Melhor Investimento O Que Aconteceu?
2015 Ações Internacionais (Globais) O dólar subiu e as bolsas lá fora performaram bem. A Bolsa Brasileira caiu cerca de 13%.
2016 Renda Variável Brasil O cenário virou. Com a troca de governo e agenda reformista, o Brasil liderou os retornos.
2021 Renda Variável Brasil (Pior Resultado) Após anos de liderança, a bolsa brasileira voltou a ter o pior desempenho.

A Solução: Diversificação Inteligente

Se eu tivesse uma bola de cristal, seria fácil: compraria apenas o vencedor de cada ano. Como isso é impossível até para as melhores mentes do mercado, a resposta para ter investimentos que batem o CDI com consistência é a diversificação. Uma carteira balanceada — contendo fundos imobiliários, títulos ligados à inflação, ações internacionais e renda fixa global — tende a ficar sempre na “média positiva”.

Para entender mais sobre como estruturar essa proteção, recomendo que você leia nosso artigo completo sobre diversificação de investimentos. A ideia não é ter um retorno medíocre, mas sim um retorno excelente (na casa dos 15% ao ano em média) sem correr o risco da ruína de apostar tudo em uma única classe de ativos que pode desabar.

Como Começar a Sair do CDI?

Eu sei que sair da zona de conforto do CDI pode dar um frio na barriga. A primeira vez que você for comprar um ETF internacional, vai sentir aquela ansiedade do novo. Mas eu te prometo: essa aflição vira prazer rapidamente ao ver seu patrimônio dolarizado e protegido.

  • Passo 1: Aceite que depender de política monetária brasileira é arriscado.
  • Passo 2: Comece a diversificar com ativos internacionais (Stocks e REITs).
  • Passo 3: Não tente fazer “market timing” (acertar a hora exata), foque no longo prazo.
Especialista em investimentos globais da Finclass e analista CNPI. Engenheiro de gestão e bacharel em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC, Arrais também é engenheiro mecatrônico pela Middlesex University London. Tem experiência em consultoria financeira autônoma e análise de fundos de investimento.