Se você não quer ser apenas mais um na média, precisa evitar urgentemente três erros que estão te deixando cada vez mais distante da tão sonhada liberdade financeira. Para começar, imagine um gráfico que mostra o gasto médio do brasileiro. Acredite, uma das categorias desse gráfico está silenciosamente matando as suas chances de construir patrimônio ao longo do tempo. Olhando com calma, vemos que a habitação consome muito, o que inclui financiamento, condomínio e contas básicas, mas isso não é surpreendente. A alimentação e a saúde também levam uma fatia considerável, e cortar gastos aqui tem um limite óbvio, pois afeta seu bem-estar. No entanto, existe uma categoria que sozinha engole um pedaço enorme da renda das famílias e que quase ninguém percebe com a devida clareza: o transporte.

Erro 1: Subestimar o Custo Real de um Carro

Aqui temos o nosso primeiro grande erro: subestimar o peso de um veículo no seu orçamento. Ter um carro ainda é o segundo maior sonho do brasileiro, perdendo apenas para a casa própria, e não há nada de errado em querer conforto ou precisar dele como ferramenta de trabalho, especialmente quando o transporte público consome horas preciosas do seu dia. O problema não é ter o carro, é o tamanho dele dentro do seu orçamento e como isso afeta sua busca pela liberdade financeira. Hoje, um carro considerado “popular” beira os R$ 100.000,00, o que já é uma contradição em termos. Mas o susto real vem quando calculamos o custo para manter esse veículo rodando.

Fiz uma conta detalhada considerando um motorista que roda 1.000 km por mês. Ao somar combustível, depreciação (o valor que o carro perde), seguro, estacionamento, pedágio, IPVA, licenciamento, manutenção e lavagem, o resultado é assustador. Apenas para o carro “existir” limpinho na sua garagem, o custo anual ultrapassa os R$ 25.000,00.

Custo Anual de Manutenção de um Carro Popular

Item de Despesa Custo Estimado (Anual)
Combustível (13.3 km/L a R$ 6,16) R$ 5.558,00
Depreciação (20% em 5 anos) R$ 5.481,00
Seguro R$ 2.500,00
IPVA (4% SP) R$ 4.000,00
Manutenção, Lavagem e Outros R$ 8.061,00
Total Anual ~ R$ 25.600,00

Isso dá mais de R$ 2.000,00 por mês, valor superior a um salário mínimo, sem nem considerar a parcela da compra. E é aqui que a situação piora: a maioria financia. Quando adicionamos os juros do financiamento, o custo explode e o dinheiro que poderia estar rendendo juros compostos para a sua liberdade financeira passa a pagar juros para o banco. Veja a simulação abaixo para um veículo de R$ 100 mil financiado em 60 meses:

Cenário de Financiamento Valor da Parcela Total Pago no Final Juros Pagos
100% Financiado R$ 2.644,94 R$ 158.700,00 R$ 58.700,00
30% de Entrada R$ 1.851,46 R$ 141.088,00 R$ 41.088,00
50% de Entrada R$ 1.322,47 R$ 129.348,00 R$ 29.349,00

No pior cenário, você paga mais de 50% do valor do carro apenas em juros. É um dinheiro que deixou de trabalhar para você. No início da sua jornada, são os aportes que fazem a diferença na construção de patrimônio, e comprometer sua renda dessa forma é como andar com o freio de mão puxado.

Erro 2: O Otimista sem Guarda-Chuva

O segundo erro fatal é subestimar os imprevistos. Muitas pessoas fazem um planejamento financeiro excessivamente otimista, achando que nada dará errado. Eu acredito que você deva ser otimista com o futuro, sim, mas precisa ser um “otimista com guarda-chuva”. A única certeza da vida, além dos impostos, é que algo fora do seu controle vai acontecer — seja uma doença, um acidente ou um diagnóstico inesperado. Esses eventos não pedem permissão e nem dão aviso prévio.

Um raciocínio comum, mas perigoso, é o de não pagar plano de saúde ou seguro para “investir a diferença”. Vamos aos números: suponha que um plano custe R$ 540 e você decida gastar R$ 100 por conta própria e investir os R$ 440 restantes. Em 10 anos, com rentabilidade real, você teria acumulado cerca de R$ 77.000. Parece bom? Sim, até o imprevisto chegar. Uma única diária de UTI em um bom hospital pode custar de R$ 3.000 a R$ 10.000. Uma internação de uma semana consumiria toda a sua reserva de uma década.

Eu vivi isso na pele com meu cunhado, que precisou de internação por COVID. A conta de apenas 8 dias beirou os R$ 100.000. Se você não tem seguro, um evento desses destrói seu patrimônio e te joga de volta à estaca zero, ou pior, para o negativo. Por isso, ter um Seguro de Vida é essencial, inclusive para os jovens. Muitos pensam que seguro é só para quem tem filhos, mas se você sofrer um acidente que o impeça de trabalhar, como converterá seu tempo (seu maior ativo) em riqueza?

Erro 3: Ignorar a Educação Financeira

Por fim, o terceiro erro é não aprender sobre o dinheiro. É curioso como passamos anos na faculdade estudando matérias que talvez nunca usemos, fazemos pós-graduação e mudamos de carreira, mas ignoramos o funcionamento da única coisa que lidaremos do primeiro ao último dia de nossa vida adulta: o dinheiro. A ignorância financeira cobra um preço alto e muitas vezes a pessoa nem sabe que está pagando.

Isso nos remete ao efeito Dunning-Kruger, um fenômeno psicológico onde pessoas com pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais do que realmente sabem. No mercado financeiro, isso é desastroso. O excesso de confiança leva a decisões erradas, alavancagem excessiva e perda de capital. Como dizia o filósofo Epicteto: “É impossível para um homem aprender aquilo que ele pensa que já sabe”.

Se tem uma lição que você deve levar daqui é: sobre dinheiro, você provavelmente não sabe o suficiente. Nem eu. Por isso continuo estudando. A educação financeira é a área que me deu o maior retorno sobre o capital investido em toda a minha vida. Quanto antes você começar a estudar, mais rápido o tempo e os juros compostos trabalharão a favor da sua liberdade financeira.

Fundador do canal “Você MAIS Rico” e do curso “Viver de Renda”, sócio-fundador do Grupo Primo e um dos apresentadores do podcast “Os Sócios”, é empreendedor, investidor e uma das maiores referências de finanças no Brasil.