mar, 2025 Investimentos

Índice VIX: o que é, para que serve, como calcular e interpretar

Thiago Koguchi

Imagine que você tem a opção de manter um lucro garantido ou arriscar perder parte dele em busca de um rendimento ainda maior. A maioria das pessoas escolheria a segurança, evitando o risco desnecessário. Esse comportamento, conhecido como aversão à perda, foi estudado pelo economista Richard Thaler e é um dos fatores que ajudam a explicar o funcionamento do índice VIX, também chamado de “Índice do Medo“.

O VIX mede a expectativa de volatilidade do S&P 500 e reflete o grau de incerteza dos investidores em relação ao futuro do mercado financeiro. Quando a instabilidade é alta, os investidores tendem a buscar proteção, elevando o índice. Já em momentos de maior confiança, o VIX permanece em patamares mais baixos.

Mas por que esse índice é tão relevante? Afinal, ele é utilizado por investidores, analistas e gestores para avaliar o sentimento do mercado, proteger carteiras contra oscilações bruscas e até mesmo identificar oportunidades de investimento. 

Neste artigo, respondemos a esta e outras perguntas. Siga conosco para aprender:

  • O que é o VIX, índice do medo;
  • Para que serve o índice VIX;
  • Como calcular o VIX;
  • Como interpretar o índice VIX;
  • Como o índice VIX impacta o Ibovespa;
  • Como usar o VIX nos investimentos.

Bora começar?

O que é o VIX, o Índice do Medo?

O Índice VIX (Volatility Index), também conhecido como “Índice do Medo”, é um indicador que mede a expectativa de volatilidade do mercado acionário dos Estados Unidos para os próximos 30 dias. Ele é calculado com base nos preços das opções de ações do S&P 500, um dos principais índices de ações do mundo, e reflete o nível de incerteza dos investidores em relação ao futuro do mercado.

Criado pela Chicago Board Options Exchange (CBOE) em 1993, o VIX rapidamente se tornou um dos principais termômetros de risco do mercado financeiro. Seu valor é expresso em percentual e indica o quanto os investidores esperam que o S&P 500 varie em termos anuais.

A volatilidade medida pelo VIX está diretamente ligada a eventos macroeconômicos, crises financeiras e mudanças nas expectativas dos investidores. Por isso, ele é amplamente utilizado por traders e gestores de investimentos como uma ferramenta para avaliar riscos e ajustar suas estratégias.

Por que o VIX é chamado de “Índice do Medo”?

O VIX ganhou o apelido de “Índice do Medo” porque seu nível sobe em momentos de incerteza e crise, refletindo o aumento da ansiedade e receio dos investidores. 

Durante períodos de pânico no mercado, como crises financeiras ou eventos inesperados, os investidores tendem a buscar ativos mais seguros e negociar opções de venda (PUT) para se proteger contra quedas no mercado. Quando a volatilidade aumenta e o mercado cai, isso faz com que o preço dessas opções de PUT suba, elevando o valor do VIX.

Por exemplo, em momentos como a crise financeira de 2008 ou o início da pandemia de COVID-19 em 2020, o VIX disparou para patamares historicamente altos. Isso sinalizou que os investidores estavam extremamente preocupados com o futuro do mercado e, consequentemente, buscavam proteção contra perdas significativas.

Em contrapartida, quando o mercado está otimista e as oscilações são reduzidas, o VIX permanece em níveis baixos, indicando um ambiente mais estável e previsível.

O Índice VIX, portanto, funciona como um “termômetro do medo” do mercado, ajudando investidores a entender o sentimento predominante e a tomar decisões mais estratégicas diante da volatilidade.

Para que serve o Índice VIX?

O Índice VIX é uma ferramenta-chave para investidores e analistas de mercado, pois fornece uma medida clara da volatilidade esperada no curto prazo. Ele pode ser utilizado de diversas formas, desde a avaliação do sentimento do mercado até a implementação de estratégias de proteção contra riscos.

Indicador de sentimento de mercado

Uma das principais funções do VIX é atuar como um termômetro do sentimento dos investidores. Afinal, ele reflete o nível de incerteza e o apetite ao risco no mercado acionário.

A interpretação do índice é a seguinte:

  • VIX baixo: indica um ambiente de otimismo e estabilidade, sugerindo que os investidores estão confiantes no futuro do mercado, ou em uma tendência de alta;
  • VIX alto: sugere medo e incerteza, o que pode estar associado a eventos como crises financeiras, mudanças políticas ou preocupações com a economia global. Ainda, tem chances de ocasionar quedas em outros índices importantes.

Por isso, o VIX é frequentemente observado em conjunto com outros indicadores econômicos para prever possíveis movimentos do mercado.

Ferramenta para hedging

Além de ser um indicador de sentimento, o VIX é amplamente utilizado como um instrumento de hedging, ou seja, proteção contra volatilidade extrema.

Investidores e gestores de fundos podem utilizar contratos futuros e opções baseados no VIX para reduzir os impactos das oscilações bruscas nos preços dos ativos. 

Aqui, estratégias comuns incluem:

  • Compra de opções do VIX: quando há expectativa de aumento da volatilidade, investidores podem comprar opções de venda (puts) no VIX para lucrar caso o mercado entre em pânico e venha a cair;
  • Proteção para carteiras de ações: fundos de investimento utilizam derivativos do VIX para minimizar perdas durante períodos de crise.

Essa característica torna o VIX um aliado importante para quem busca proteger seus investimentos em tempos de incerteza.

Utilização em análises de mercado

O VIX também é utilizado como um complemento na análise de mercado e na formulação de estratégias de investimento

Alguns exemplos de como ele pode ser aplicado incluem:

  • Correlação com índices de ações: quando o VIX sobe, o S&P 500 geralmente cai, e vice-versa. Isso ajuda investidores a antecipar tendências de curto prazo;
  • Avaliação do risco sistêmico: níveis elevados do VIX podem indicar que o mercado está se aproximando de um período de alta volatilidade, o que pode impactar diversas classes de ativos;
  • Ajuste de portfólio: um aumento no VIX pode sinalizar o momento de reduzir posições em ativos de maior risco e aumentar a exposição a investimentos mais defensivos.

Com essas aplicações, o VIX se torna uma ferramenta importante não apenas para traders, mas também para investidores que buscam tomar decisões mais informadas e estratégicas.

Como calcular o VIX?

O cálculo do Índice VIX é um processo matemático complexo que leva em consideração a média ponderada dos preços das opções de compra (calls) e venda (puts) do S&P 500. Ele não mede a volatilidade realizada no passado, mas sim a expectativa de volatilidade futura implícita nos preços dessas opções.

A fórmula do VIX utiliza opções com vencimentos próximos e considera tanto opções dentro do dinheiro (in the money) quanto opções fora do dinheiro (out of the money). Alguns dos principais fatores envolvidos no cálculo incluem:

  • Preços das opções do S&P 500: o VIX é baseado nos preços das opções com vencimentos próximos, excluindo as que estão muito longe do dinheiro;
  • Tempo até o vencimento: quanto mais próximo o vencimento, maior o peso das opções no cálculo do índice;
  • Preços de exercício (strike prices): o cálculo envolve a diferença entre os preços de exercício das opções, ajudando a estimar a volatilidade futura.

A Chicago Board Options Exchange (CBOE), responsável pela metodologia do VIX, atualiza o índice em tempo real ao longo do pregão. Isso permite que investidores acompanhem instantaneamente as mudanças na percepção de risco do mercado.

Embora o cálculo exato do VIX envolva uma fórmula matemática detalhada, sua interpretação prática é mais acessível: quanto maior o índice, maior a expectativa de volatilidade futura; quanto menor, maior a estabilidade esperada pelo mercado.

Como interpretar o Índice VIX?

O VIX reflete a expectativa de volatilidade do mercado para os próximos 30 dias, baseada nas opções do S&P 500. Valores mais altos indicam maior incerteza e potencial para oscilações significativas nos preços das ações, enquanto valores mais baixos sugerem um mercado mais estável.

Na prática, a interpretação segue essas diretrizes:

  • VIX abaixo de 20: geralmente associado a períodos de menor volatilidade e maior confiança dos investidores;
  • VIX entre 20 e 30: indica uma volatilidade moderada, podendo sinalizar cautela entre os participantes do mercado;
  • VIX acima de 30: reflete alta volatilidade, com investidores demonstrando preocupação significativa com possíveis quedas no mercado.
Linha do tempo

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É importante notar que o VIX não prevê movimentos específicos do mercado, mas sim a magnitude das possíveis variações. Portanto, um VIX elevado não indica necessariamente uma queda iminente, mas sim que os investidores esperam movimentos mais acentuados, sejam de alta ou baixa.

Qual é o maior valor de índice de volatilidade S&P 500 de todos os tempos?

O VIX atingiu seu pico histórico em 16 de março de 2020, alcançando 82,69 pontos (no fechamento do dia) durante a crise desencadeada pela pandemia de COVID-19

Esse valor superou o recorde anterior de 80,86 pontos, registrado em 20 de novembro de 2008, durante a crise financeira global. Esses picos refletem momentos de extrema incerteza e medo no mercado financeiro.

Qual é o menor valor de índice de volatilidade S&P 500 de todos os tempos?

O menor valor já registrado pelo VIX foi de 9,14 pontos, em 3 de novembro de 2017. Níveis tão baixos indicam uma confiança elevada dos investidores e expectativas de estabilidade no mercado.

Compreender esses extremos históricos ajuda os investidores a contextualizar o VIX atual e avaliar o sentimento predominante no mercado. No entanto, recomendamos fortemente utilizar o VIX em conjunto com outros indicadores e análises para uma avaliação mais completa do cenário econômico e financeiro.

Como o índice VIX impacta o Ibovespa?

O Índice VIX, por refletir a volatilidade esperada do mercado americano, tem um impacto indireto, mas relevante, sobre o Ibovespa e outros mercados globais. Como os Estados Unidos possuem a maior economia do mundo, a percepção de risco no S&P 500 influencia a aversão ou o apetite ao risco dos investidores em diversas regiões, incluindo o Brasil.

Geralmente, um VIX elevado sugere maior incerteza e turbulência nos mercados, levando a fluxos de capital para ativos mais seguros, o que pode pressionar o Ibovespa para baixo. Já um VIX baixo indica um ambiente mais estável e favorável para investimentos em ativos de maior risco, como ações e mercados emergentes.

Influência em ações e outros ativos

A relação entre o VIX e o Ibovespa ocorre principalmente por meio do fluxo de capital global e da percepção de risco dos investidores estrangeiros, que possuem um peso significativo na Bolsa brasileira.

Os cenários podem, então, ser vistos dessa forma:

  • Cenário de VIX elevado: investidores buscam proteção e reduzem exposição a ativos de risco, incluindo ações de mercados emergentes, como o Brasil. Isso pode levar a quedas no Ibovespa e desvalorização do real frente ao dólar;
  • Cenário de VIX baixo: com maior confiança no mercado, os investidores tendem a buscar retornos mais altos em ativos de risco, beneficiando ações da Bolsa brasileira e fortalecendo o fluxo de capital estrangeiro.

Além das ações, o comportamento do VIX também pode influenciar outros ativos, como:

  • Câmbio: um aumento no VIX pode levar à valorização do dólar frente ao real, pois investidores buscam refúgio em moedas fortes;
  • Juros: momentos de alta volatilidade podem afetar a curva de juros no Brasil, uma vez que a percepção de risco elevado influencia a precificação dos títulos públicos;
  • Commodities: como o Brasil é um grande exportador de commodities, a oscilação do VIX pode impactar preços de ativos como petróleo, minério de ferro e soja.

Efeito em estratégias de investimento

O nível do VIX também pode influenciar a forma como investidores estruturam suas estratégias no mercado brasileiro. Observe:

  • Gestão de risco: em períodos de alta volatilidade (VIX elevado), muitos gestores ajustam suas carteiras para ativos mais defensivos, como empresas com receitas previsíveis e menor alavancagem;
  • Oportunidades de compra: um VIX alto pode criar oportunidades para investidores que buscam ativos descontados, assumindo que o pânico do mercado possa estar exagerado;
  • Proteção de carteira: investidores podem adotar estratégias de hedge, como compra de opções de venda ou exposição ao dólar, para mitigar impactos de oscilações bruscas no mercado.

Acompanhar o VIX, portanto, é bastante útil para entender tendências do Ibovespa e ajustar estratégias conforme o cenário global. Embora não seja um indicador direto da Bolsa brasileira, ainda assim sua influência sobre o sentimento dos investidores e o fluxo de capital o torna um elemento importante para análises de mercado.

Como usar o VIX nos investimentos?

O Índice VIX não é apenas um termômetro do mercado, mas também uma ferramenta que pode ser utilizada estrategicamente em investimentos. Ele auxilia investidores na proteção contra oscilações bruscas, na identificação de oportunidades e na construção de estratégias mais robustas em momentos de alta ou baixa volatilidade.

Vem conosco conhecer algumas estratégias.

Estratégias de hedging

O VIX é amplamente utilizado como um instrumento de hedging, ou seja, proteção contra oscilações extremas do mercado. Algumas das formas mais comuns de utilizá-lo para esse fim incluem:

  • Compra de opções de venda (puts) do VIX: quando um investidor acredita que a volatilidade do mercado pode aumentar, ele pode comprar opções de venda do VIX para se proteger contra quedas no mercado acionário;
  • Venda de opções de venda (puts) no VIX: em um cenário de expectativa de estabilidade, vender puts do VIX pode gerar ganhos caso a volatilidade que está alta passe a cair;
  • Exposição indireta via ativos defensivos: um aumento no VIX pode indicar turbulência nos mercados, levando alguns investidores a aumentar posições em ativos mais seguros, como ouro, títulos públicos americanos (Treasuries) e setores menos cíclicos (saúde, utilities).

Essas estratégias são utilizadas principalmente por investidores institucionais, fundos de hedge e traders que operam com derivativos.

Investimento em produtos ligados ao VIX

Além de utilizar o VIX como indicador, investidores também podem obter exposição direta à volatilidade por meio de produtos financeiros baseados no índice, como:

  • ETFs e ETNs de volatilidade: existem fundos negociados em bolsa que replicam o desempenho do VIX ou de sua curva futura. Exemplos internacionais incluem o VXX (iPath Series B S&P 500 VIX Short-Term Futures ETN) e o UVXY (ProShares Ultra VIX Short-Term Futures ETF);
  • Contratos futuros do VIX: os investidores mais experientes podem operar contratos futuros do VIX negociados na CBOE (Chicago Board Options Exchange) para especulação ou proteção de carteira;
  • Opções sobre o VIX: assim como ações, o VIX possui mercado de opções, permitindo estratégias de hedge ou apostas diretas na movimentação da volatilidade.

É importante destacar que esses produtos costumam ser complexos e apresentam alta volatilidade. Logo, são mais indicados para investidores que compreendem seus riscos.

Análise de sentimento

O VIX também pode ser usado como um indicador de sentimento para ajustar estratégias de investimento. Alguns sinais que os investidores podem observar incluem:

  • VIX abaixo de 15: indica um mercado calmo e de baixa volatilidade, cenário favorável para estratégias de longo prazo e alocações mais agressivas;
  • VIX entre 20 e 30: sugere um mercado mais volátil, o que tende a levar a ajustes na carteira, como diversificação e aumento de proteção;
  • VIX acima de 30: indica um período de estresse no mercado, momento em que oportunidades costumam surgir para investidores dispostos a assumir riscos.

Ao acompanhar o VIX juntamente com outros indicadores, como o S&P 500, Ibovespa, curva de juros e fluxo de capital estrangeiro, é possível ter uma visão mais completa do momento do mercado e tomar decisões mais estratégicas.

Bacharel em Jornalismo e pós-graduado em Linguagem, Cultura e Mídia pela Unesp. É colaborador da Upside Newsletter e do Investimentos.com.br
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