Se tem uma coisa que assusta o brasileiro é a ideia de o governo meter a mão no seu dinheiro. E isso não é paranoia, uma vez que já aconteceu aqui no Brasil na década de 90. Basta lembrar do confisco da poupança do governo Collor.

Muitos me perguntam: “Poxa, Bruno, corremos o risco de isso acontecer novamente?”. Pela Constituição, um confisco como aquele não poderia mais acontecer com uma simples canetada. Fizemos uma emenda que exige a passagem pelo Congresso. Mas a história mostra que, quando a parte fiscal aperta, o governo é sempre muito criativo nas formas de tirar dinheiro da população para cobrir seus próprios gastos.

O problema do Brasil naquela época era a hiperinflação. Hoje, nosso problema é fiscal. E quando o governo precisa de recursos, ele busca de duas formas principais: criando inflação ou aumentando impostos. E se você não souber como proteger o seu dinheiro, você vira o alvo.

Essa proteção acontece em duas camadas: âmbito local e âmbito global. Dentro delas, vou falar sobre as três formas de proteção que eu mesmo aplico para garantir o meu patrimônio e que você também pode usar.

Camada 1: Invista no Exterior

A primeira e mais fundamental forma de proteção é não deixar todos os seus recursos em um único país. É preciso ter uma diversificação internacional.

Eu, por exemplo, já tenho há algum tempo a meta de ter pelo menos 50% do meu patrimônio investido fora do Brasil. Por que eu faço isso? Primeiro, veja que eu falei do meu patrimônio investido. Eu tenho outros ativos, como imóveis e a minha participação aqui no Grupo Primo, que estão “casados” com o Brasil.

Meu racional é o seguinte:

  • Cenário 1: O Brasil vai muito bem. Meu negócio, que está no Brasil, vai prosperar e eu vou ficar muito rico.

  • Cenário 2: O Brasil piora pra caramba. A ponto de prejudicar os negócios. Nesse caso, eu vou ter agradecido muito ao Bruno do passado por ter tido a ideia de investir uma boa parte do capital fora do país.

Essa lógica serve para qualquer um. Se você é um empreendedor com um negócio local ou um funcionário público que depende do governo, sua fonte de renda está atrelada ao Brasil. Não seria prudente diversificar?

Portanto, investir no exterior não é luxo nem modismo, é uma questão de necessidade. É a camada mais básica de proteção contra riscos locais e contra o apetite de um estado faminto por recursos.

Camada 2: Estruturas Internacionais de Proteção

Apenas ter dinheiro fora não resolve todos os problemas. Você ainda fica sujeito a impostos sobre ganho de capital, IOF e, principalmente para quem tem um patrimônio maior, ao pesado imposto de sucessão, que pode chegar a 40% nos EUA para não residentes com mais de 60 mil dólares investidos.

Para evitar isso, entra a segunda camada: o uso de estruturas internacionais de proteção, como Trusts e empresas Offshore.

O que é uma Offshore?
São empresas estabelecidas em países com regimes fiscais mais favoráveis, frequentemente chamados de paraísos fiscais, com o objetivo de obter benefícios fiscais. Abrir uma não é nada ilegal, é simplesmente ter uma empresa sediada fora da nossa costa.

Com essas estruturas, você consegue organizar seus ativos em moeda forte, reduzir a carga tributária de forma legal, garantir privacidade e, sobretudo, facilitar o processo de sucessão patrimonial para a sua família.

Imagine o exemplo de alguém que compra um imóvel nos EUA. Se essa pessoa vier a falecer, o imposto de herança pode ser altíssimo. Agora, se ela abre uma empresa Offshore e compra o imóvel por meio dela, a situação muda. Se a pessoa morre, a empresa continua existindo e sendo a dona do imóvel. A sucessão das cotas da empresa acontece na jurisdição onde ela foi aberta, que pode não ter imposto algum sobre herança.

Camada 3: Ativos Fora do Sistema (Ouro e Bitcoin)

As duas primeiras camadas te protegem de riscos locais e globais, mas ainda dentro do sistema financeiro tradicional. A terceira camada te protege do risco do próprio sistema, ou seja, das moedas fiduciárias que perdem valor com o tempo. Aqui, entram o ouro e o Bitcoin.

Ouro vs. Moeda Fiduciária vs. Bitcoin

Para entender o valor desses ativos, pense em duas características:

  • Vendabilidade temporal: A capacidade de manter o poder de compra ao longo do tempo.

  • Vendabilidade espacial: A facilidade de mover o valor através do espaço.

Ativo Vendabilidade Temporal Vendabilidade Espacial
Ouro ✅ Alta ❌ Baixa
Moeda Fiduciária ❌ Baixa ✅ Alta
Bitcoin ✅ Alta ✅ Alta

O ouro é uma reserva de valor há milênios, mas movê-lo fisicamente é caro e complexo. A moeda fiduciária (como o Real ou o Dólar) é fácil de mover (um PIX, por exemplo), mas perde poder de compra constantemente pela inflação.

Já o Bitcoin combina o melhor dos dois mundos. Ele tem se provado uma excelente reserva de valor e é extremamente fácil de transportar, pois é imaterial. Você pode cruzar uma fronteira levando milhões de reais apenas memorizando 12 palavras.

Isso não é teoria. Um estudo da Digital Assets Research Initiative (DARI), com apoio da Human Rights Foundation, concluiu que pelo menos 329.000 refugiados já usaram o Bitcoin como uma ferramenta de sobrevivência financeira para escapar de guerras, colapsos econômicos e regimes autoritários.

Essas pessoas não escolheram o Bitcoin por ideologia, mas por necessidade. O ativo oferece algo inédito: a soberania financeira individual.

Resumindo, a proteção completa do seu patrimônio passa por essas três camadas:

  1. Diversificar internacionalmente para se proteger do risco-país.

  2. Usar estruturas internacionais para otimizar a carga tributária e a sucessão.

  3. Ter ativos fora do sistema, como o Bitcoin, para se proteger do risco do próprio sistema financeiro e garantir sua soberania.

Ao combinar essas estratégias, você coloca o controle do seu dinheiro de volta nas mãos de quem realmente importa: você.

Fundador do canal “Você MAIS Rico” e do curso “Viver de Renda”, sócio-fundador do Grupo Primo e um dos apresentadores do podcast “Os Sócios”, é empreendedor, investidor e uma das maiores referências de finanças no Brasil.