Você provavelmente conhece alguém que trabalha duro o mês inteiro, mas chega ao final sem nada. Talvez essa pessoa até ganhe bem — R$ 2.000, R$ 5.000 ou R$ 20.000 —, mas tudo que entra também sai, e a construção de patrimônio simplesmente não acontece.

Muitos acreditam que o sucesso financeiro depende apenas de ganhar cada vez mais, quando, na verdade, ele está muito mais ligado ao comportamento e ao planejamento. O que realmente separa quem enriquece de quem vive no aperto não é inteligência, sorte ou o emprego dos sonhos — é a forma como a pessoa lida com o dinheiro no dia a dia.

Depois de 20 anos investindo (sim, comecei aos 17!), percebi que existem três fases pelas quais qualquer pessoa passa, desde o primeiro investimento até a tão sonhada liberdade financeira:

  1. Construção
  2. Aceleração
  3. Liberdade Financeira

Essas fases não têm um tempo fixo. O processo é individual e depende muito das suas escolhas e disciplina. Não importa onde você está agora: é possível viver todas elas se você se comprometer de verdade com o seu futuro.

Fase 1: A Construção do Patrimônio

A maioria das pessoas mede sua vida financeira pela renda — “eu ganho tanto por mês”. No entanto, a renda é apenas um fluxo: ela entra e sai. Para ilustrar, imagine duas pessoas, Lucas e Ana.

Característica Lucas Ana
Idade 20 anos 20 anos
Renda mensal R$ 5.000 R$ 5.000
Estilo de vida Apartamento caro, carro financiado Mora perto do trabalho, sem dívidas
Investimentos Não sobra dinheiro para investir Investe parte do salário desde o início
Patrimônio após 10 anos Próximo de zero ou negativo Relevante e gerando renda passiva

No papel, Lucas e Ana parecem iguais, mas suas escolhas os levaram a resultados totalmente diferentes. Lucas compromete sua renda com um custo de vida elevado, enquanto Ana, com um estilo de vida mais simples, constrói um patrimônio sólido. A história de Ana mostra que a base da riqueza é o comportamento.

Um exemplo real e mundialmente conhecido, popularizado pelo livro A Psicologia Financeira, de Morgan Housel, é a história de Ronald James Read. Ele foi frentista e faxineiro nos Estados Unidos e, com uma vida simples e salários modestos, acumulou uma fortuna de mais de 8 milhões de dólares.

Ronald Read investiu pacientemente em ações de empresas sólidas — as chamadas blue chips — e deixou o tempo e os juros compostos fazerem sua mágica. Quando faleceu aos 92 anos, em 2014, estava entre os menos de 4.000 americanos, de um total de 2,8 milhões que morreram naquele ano, a deixar um patrimônio líquido superior a 8 milhões de dólares.

Em contrapartida, Housel cita também o exemplo de Richard Fuscone, um executivo formado em Harvard com uma carreira de sucesso que, por não saber controlar gastos e dívidas, acabou falindo.

Essas histórias mostram que a fase de construção depende menos de quanto você ganha e mais do que você faz com o que ganha.

Fase 2: A Aceleração dos Ganhos

É nesta fase que a mágica dos juros compostos realmente começa a acontecer. Seu patrimônio não cresce mais apenas pelos aportes mensais, mas também pelos rendimentos que ele próprio gera.

No início, mesmo com alta rentabilidade, o ganho absoluto pode parecer pequeno. Se você tem R$ 1.000 investidos e obtém 100% de retorno, seu patrimônio dobra para R$ 2.000 — um ganho de apenas R$ 1.000. No entanto, quando você atinge R$ 100.000, um rendimento mais conservador, como o da taxa Selic (a taxa básica de juros da economia), já faz uma diferença significativa. Com um patrimônio de R$ 100.000 e uma Selic em torno de 15% ao ano (valor hipotético), seus rendimentos anuais seriam de aproximadamente R$ 15.000, superando os R$ 12.000 que você aportaria economizando R$ 1.000 por mês.

Nesse ponto, os rendimentos da sua carteira se tornam mais relevantes que os próprios aportes. É o momento em que você sente que os juros compostos estão realmente trabalhando a seu favor. A grande dificuldade aqui é resistir à tentação de usar esse patrimônio para comprar um carro novo ou dar entrada em um imóvel, interrompendo o processo de aceleração.

Fase 3: A Liberdade Financeira

Após passar pelas fases de construção e aceleração, chega o momento da liberdade financeira. Aqui, seu patrimônio deixa de ser apenas um número em um gráfico e se torna um instrumento de independência e poder de escolha. Você ganha a opção de dizer “não” a um trabalho que não gosta, pois seu patrimônio já é capaz de sustentar seu custo de vida.

Uma regra mundialmente famosa para identificar esse ponto é a Regra dos 4%, que sugere: se você consegue viver com 4% do seu patrimônio total por ano, você atingiu a liberdade financeira. Por exemplo:

  • Custo de vida anual de R$ 40.000: exige um patrimônio de R$ 1.000.000.
  • Custo de vida anual de R$ 120.000: exige um patrimônio de R$ 3.000.000.

Essa regra funciona porque, teoricamente, sua carteira de investimentos renderá o suficiente para cobrir retiradas anuais de 4%, ajustar-se à inflação e, idealmente, continuar crescendo.

Como dizia o filósofo Sêneca: “pobre não é quem tem pouco, mas quem precisa de muito”. Quanto mais cedo você entender o que é suficiente para você, mais rápido alcançará sua liberdade.

O caminho é claro: construa, acelere e desfrute. E, se precisar de ajuda, um planejador financeiro pode ser como um personal trainer para suas finanças — alguém que identifica seus pontos cegos e monta um plano personalizado para que você alcance seus objetivos de forma mais rápida e sólida.

Fundador do canal “Você MAIS Rico” e do curso “Viver de Renda”, sócio-fundador do Grupo Primo e um dos apresentadores do podcast “Os Sócios”, é empreendedor, investidor e uma das maiores referências de finanças no Brasil.