Olá, turma! Eu sou Ricardo Figueiredo, professor da Finclass e especialista em Fundos Imobiliários. Hoje, eu vou mostrar como eu estou planejando a minha aposentadoria. E note o tempo verbal: “planejando”, no presente. Porque é algo contínuo, que pode sofrer alterações — e que você já deveria estar considerando para a sua vida.

Muitos deixam para depois, mas a verdade é uma só (e deixa eu te contar): o INSS não será suficiente!
Por isso, quero te dar uma fagulha — uma boa ideia — para você começar a pensar na sua aposentadoria hoje mesmo.


O Alerta Inicial: Por Que Não Dá Para Depender do INSS?

Quando falamos em aposentadoria, a primeira coisa que vem à cabeça é o INSS, certo?
Se você é trabalhador em regime CLT, já tem ali sua contribuição mensal.
Mas você acha que esse dinheiro está sendo guardado em uma caixinha com seu nome para bancar sua aposentadoria no futuro? É claro que não!

O sistema do INSS funciona no regime de repartição.
O dinheiro que você paga hoje serve para pagar a aposentadoria de quem está aposentado agora.
A minha contribuição, por exemplo, ajuda a pagar a aposentadoria do meu pai.
Quando chegar a minha vez, vou depender da contribuição da geração que estiver no mercado de trabalho.

E a realidade dos números é preocupante:

Faixa de Renda (Aposentadoria INSS) Proporção dos Aposentados
Até 1 salário mínimo Cerca de 2/3 (dois terços)
Teto da previdência (≈ R$ 7.786,02 em 2024) Menos de 0,5%

Fonte: dados consolidados de diversas análises sobre o perfil dos beneficiários do INSS.

Dois terços dos aposentados recebem no máximo um salário mínimo.
E mesmo o teto — que menos de meio por cento recebe — garante uma vida digna, mas está longe de ser aquele sonho de aposentadoria que muitos têm.
Agora, imagine você, jovem, que vai se aposentar daqui a 30, 40, 50 anos… Que INSS encontrará lá na frente?

Por tudo isso, no meu planejamento, considero o valor do INSS como zero.
O que vier de lá é lucro. Minha aposentadoria virá daquilo que eu construir com meu próprio planejamento.


Passo 1: Qual a Sua Renda-Alvo?

A primeira coisa a fazer é definir um objetivo.
Pense em quanto você precisaria ter de renda mensal para olhar e falar:
“Atingi meu objetivo de aposentadoria.”

Essa é a parte mais difícil, principalmente para os mais jovens, que ainda não viveram certas fases da vida — como casar ou ter filhos.
Mas não fuja da responsabilidade!
Para te ajudar, vou usar uma planilha simples.

Imagine que sua meta seja ter uma renda mensal de R$ 10.000,00.
Agora, precisamos estimar qual será o rendimento anual da sua carteira de investimentos na fase de aposentadoria (o Dividend Yield — DY).
Sendo conservador, vamos trabalhar com 8,5% ao ano.

Com esses dados, o cálculo é o seguinte:

  • Renda Anual Desejada: R$ 10.000 × 12 = R$ 120.000
  • Patrimônio Necessário: R$ 120.000 ÷ 8,5% = R$ 1.411.764,71

Isso mesmo: para ter uma renda de R$ 10.000 por mês, você precisa acumular um patrimônio de aproximadamente R$ 1,4 milhão.


Passo 2: Como Juntar Essa Grana?

Agora que sabemos o destino, precisamos traçar o caminho.
A pergunta é: como juntar R$ 1,4 milhão?

Aqui entram duas variáveis cruciais: aporte mensal e retorno real dos seus investimentos.

O retorno real é o que seu dinheiro rende acima da inflação — é ele que realmente aumenta seu poder de compra.
Vamos ser conservadores novamente e usar uma taxa de 5% de retorno real ao ano.

Agora, vamos simular:

Aporte Mensal Retorno Real Anual Tempo para Atingir R$ 1,41 mi (anos)
R$ 500,00 5% 52,1
R$ 1.000,00 5% 38,5
R$ 1.000,00 6% 35,8
R$ 1.500,00 7% 32,1

Viu como funciona?
Com R$ 500 por mês, levaria mais de 52 anos.
“Ricardo, 50 anos não dá!” — calma.
Existem duas formas de acelerar isso:

  1. Aportar mais: Dobrando o aporte para R$ 1.000,00, você já ganha quase 14 anos.
  2. Buscar uma rentabilidade melhor: Assumindo um pouco mais de risco de forma inteligente, para buscar um retorno real maior, você também encurta o tempo.

O segredo é fazer um misto dos dois.
E lembre-se: a planilha não é estática.
Em momentos de crise, quando os ativos estão baratos, é a hora de focar ainda mais nos aportes.
Você estará plantando ótimas sementes para colher no futuro.


As Duas Fases da Sua Carteira: Valorização vs. Renda

É um erro comum ver pessoas que estão começando a investir já montarem uma carteira focada 100% em dividendos.
Você vai precisar desse dividendo agora? Não!
Então, seu foco deve ser outro.

1. Fase de Valorização (Construção de Patrimônio)

Nesta fase, o objetivo é fazer o bolo crescer.
A carteira deve ser diversificada, buscando ativos com maior potencial de valorização — mesmo que não paguem tantos dividendos no curto prazo.
Uma boa diversificação inclui:

  • Renda Fixa Pós-fixada e Dinâmica
  • Fundos Imobiliários (FIIs)
  • Ações (no Brasil e no exterior)
  • Fundos Multimercado
  • Ativos Alternativos (como criptomoedas)

2. Fase de Renda (Aposentadoria)

Quando você atingir seu patrimônio-alvo e decidir viver da sua carteira, a configuração muda.
O foco passa a ser em ativos que geram renda recorrente e com alta previsibilidade.
A carteira de renda aumenta a exposição a:

  • Fundos Imobiliários: Podem chegar a 40% da carteira, pois são excelentes geradores de renda.
  • Ações de Dividendos: Empresas sólidas que são boas pagadoras de proventos, ocupando cerca de 30%.
  • Títulos Públicos e Dívida Corporativa: Para dar segurança e previsibilidade ao fluxo de pagamentos.

Planejar a aposentadoria é tomar as rédeas da sua vida.
Comece hoje, seja cauteloso nas premissas, comprometa-se com os aportes e — o mais importante — entenda que o seu futuro financeiro depende de você.

Especialista em fundos imobiliários da Finclass e analista CNPI. É bacharel em Economia com especialização em Mercados Financeiros e MBA em Gestão Financeira e Atuarial. Já foi professor na área de tecnologia, mas migrou para mercado financeiro há quase 20 anos, atuando na análise e gestão de investimentos em imóveis e carteira de fundos imobiliários.