nov, 2025 Colunistas

ROIC: o que é e como analisar o Retorno sobre o Capital Investido

Luiz Guilherme Aboim

Entre tantos indicadores importantes para entender se uma empresa está produzindo bons resultados ou não, o ROIC (sigla para Return on Invested Capital, ou Retorno sobre o Capital Investido) é um dos mais citados por analistas e gestores de fundos.

Essa métrica de rentabilidade oferece uma visão clara sobre a eficiência de uma empresa em gerar lucro a partir de todo o capital que ela emprega, seja ele proveniente de dívidas ou dos próprios acionistas.

Em outras palavras, o ROIC responde a uma pergunta fundamental: quanto de retorno a empresa está gerando em relação ao que foi investido nela?

Neste artigo, convidamos você a conhecer o ROIC, seus fundamentos e como utilizá-lo para identificar empresas de alta qualidade em sua jornada de investimento.

O que é ROIC?

O ROIC (Return on Invested Capital), ou Retorno sobre o Capital Investido, mede a eficiência com que uma empresa utiliza o capital total aplicado – tanto próprio quanto de terceiros – para gerar lucro operacional.

Em outras palavras, o ROIC mostra quanto de lucro operacional líquido a empresa gera para cada real de capital investido em suas operações.

Para que serve o ROIC?

Em termos gerais, o ROIC é utilizado por investidores e gestores para avaliar se a companhia está conseguindo gerar retorno superior ao seu custo médio ponderado de capital (ou WACC, na sigla em inglês), o que indica a criação de valor sustentável e vantagens competitivas.

A comparação do ROIC com o WACC é fundamental para saber se o crescimento do negócio está, de fato, aumentando a rentabilidade ou corroendo o valor da empresa.

Em análises fundamentalistas, o Retorno sobre o Capital Investido é útil para identificar empresas bem geridas e com modelo de negócios sólido, já que um ROIC elevado (isto é, acima do custo de capital) costuma estar associado a desempenho superior das ações no longo prazo.

É importante salientar que o ROIC também é útil para comparar empresas e evitar armadilhas de crescimento que não geram valor real.

Como calcular o ROIC?

Para calcular o ROIC em suas análises, investidores podem utilizar a seguinte fórmula:

ROIC = NOPAT ÷ Capital investido médio

Ou

ROIC = Lucro da Atividade x (1 – t) ÷ Capital Investido médio

Em que:

  • NOPAT (Net Operating Profit After Taxes): lucro operacional líquido, calculado após os impostos, mas antes das despesas financeiras e itens não operacionais;
  • Capital investido médio: soma do patrimônio líquido e da dívida líquida, subtraindo os ativos não operacionais.

O NOPAT é obtido a partir do lucro operacional (EBIT) multiplicado por (1 – t), sendo t a alíquota efetiva da soma do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (IR + CSLL). Essa abordagem reflete o lucro das operações principais, desconsiderando impactos financeiros e não recorrentes.

Fórmula alternativa de ROIC

Existe uma fórmula alternativa para se calcular o Retorno sobre o Capital Investido, que é a seguinte:

ROIC = Lucro da atividade x (1 – t) ÷ Ativo operacional médio

Em relatórios de divulgação de resultados, o balanço (ativos) equivale às fontes de capital. Dessa forma, é possível expressar o Capital Investido como o Ativo operacional médio, desde que sejam excluídos itens não operacionais.

Na prática, o Capital Investido corresponde à soma da necessidade de capital de giro (NCG) — ativos cíclicos menos passivos cíclicos — e dos ativos operacionais de longo prazo (imobilizado, ativos biológicos, direitos de uso e intangíveis).

São excluídos do Capital Investido as aplicações financeiras, investimentos não relacionados ao core business e outros ativos de natureza não operacional.

Como interpretar o ROIC?

O ROIC representa o retorno obtido sobre os ativos operacionais da empresa, evidenciando sua eficiência na geração de valor com os recursos utilizados nas atividades principais.

Esse indicador é amplamente empregado para comparar a performance operacional entre empresas do mesmo setor, pois o nível médio de ROIC varia de acordo com o risco e a intensidade de capital de cada indústria.

Em suma, podemos dizer que:

  • Quando ROIC > WACC, há criação de valor econômico;
  • Quando ROIC < WACC, há destruição de valor, indicando que o capital investido gera retorno inferior ao seu custo de financiamento.

É necessário ressaltar que um ROIC acima do WACC indica que a empresa gera valor econômico, mas isso não garante que suas ações estejam atrativas.

O mercado pode já precificar esse desempenho, elevando outros indicadores, como o P/VPA (preço sobre valor patrimonial por ação), P/L (preço sobre lucro) e EV/EBITDA (valor da empresa sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) a níveis excessivos.

Assim, mesmo empresas de alta qualidade, com ROIC elevado e boa gestão, podem estar superavaliadas.

Observações importantes sobre o ROIC

Não é adequado comparar ROICs entre setores distintos. Cada indústria apresenta características próprias de risco, estrutura de capital, ciclo econômico e necessidade de investimento.

Por exemplo, um ROIC apenas ligeiramente maior em uma empresa de tecnologia em relação ao ROIC de uma empresa de energia não indica melhor desempenho da empresa de tecnologia.

Como o custo de capital das empresas de tecnologia é mais elevado, um ROIC pouco acima desse nível pode significar destruição de valor, enquanto uma empresa de energia com ROIC modesto, porém acima de seu custo médio ponderado de capital (WACC), está efetivamente criando valor.

Para exemplificar, veja a tabela abaixo:

ROIC WACC
Empresa de tecnologia 13% 15%
Empresa do setor de energia 12% 11%

Nesse exemplo hipotético, a empresa de tecnologia tem um ROIC maior do que a companhia do setor energético. À primeira vista, o retorno da primeira parece melhor. Porém, seu custo de capital também é maior.

Dessa forma, podemos concluir que a empresa de tecnologia destrói valor, enquanto a segunda cria valor.

Por outro lado, em setores mais arriscados, os investidores exigem retornos mais elevados, resultando em ROICs médios maiores e vice-versa, conforme a lógica que abordamos a seguir:

Em empresas de baixo risco operacional, a rentabilidade tende a ser mais baixa

Setores estáveis, como utilities e telecomunicações, tendem a ter demanda previsível e menor volatilidade, atraindo investidores conservadores. Contudo, a forte regulação e a concorrência acirrada limitam tarifas, preços e margens, resultando em rentabilidade mais baixa.

Em empresas de alto risco operacional, a rentabilidade média tende a ser mais elevada

Setores mais voláteis ou cíclicos, como tecnologia e consumo cíclico, são altamente sensíveis às oscilações do PIB. Durante períodos de crise econômica, a concorrência intensa elimina empresas menos eficientes, diminuindo a oferta e permitindo que as sobreviventes obtenham margens mais elevadas.​

A dinâmica competitiva nesses setores favorece a eliminação dos negócios menos preparados nos momentos de recessão ou queda do consumo, criando oportunidades para remanescentes aumentarem sua rentabilidade nas fases de recuperação do ciclo econômico.

Quais são as vantagens do ROIC?

O ROIC é um indicador amplamente utilizado por sua capacidade de fornecer insights valiosos sobre alguns pontos importantes na análise, tais como:

Abrangência do capital

Ao incluir tanto a dívida quanto o patrimônio líquido, o ROIC oferece uma visão mais completa da rentabilidade do capital total empregado.

Foco na operação

O uso do NOPAT no numerador garante que o foco esteja na performance operacional principal da empresa, eliminando distorções causadas por decisões de financiamento (juros) ou itens não recorrentes.

Métrica de qualidade

É um dos indicadores mais eficientes para identificar empresas com vantagens competitivas duradouras. Warren Buffett, um dos maiores investidores de todos os tempos, frequentemente utiliza métricas semelhantes para avaliar a qualidade de um negócio.

Alinhamento com a criação de valor

A comparação direta com o WACC torna o ROIC a métrica ideal para determinar se a empresa está, de fato, criando valor econômico para seus stakeholders.

Quais são as desvantagens e limitações do ROIC?

Apesar de ser muito útil, o ROIC não é uma métrica perfeita e possui limitações das quais você precisa estar ciente:

Sensibilidade a métodos contábeis

O cálculo do Capital Investido pode ser afetado por diferentes métodos de depreciação, amortização e capitalização de despesas (como P&D), o que pode distorcer comparações entre empresas que usam contabilidades diferentes.

Não considera o risco

O ROIC é uma métrica de retorno e não incorpora explicitamente o risco operacional ou financeiro da empresa. Uma empresa pode ter um ROIC alto, mas estar operando em um setor altamente volátil ou com uma dívida excessiva. Por isso, ele deve ser sempre analisado em conjunto com indicadores de endividamento e liquidez.

Dificuldade de cálculo para iniciantes

A determinação precisa do NOPAT e, principalmente, do Capital de Giro Líquido, pode ser complexa e exigir ajustes nas demonstrações financeiras, o que pode ser um obstáculo para quem depende de dados prontamente disponíveis.

O que é o ROIC ajustado?

O ROIC ajustado é um conceito criado justamente para mitigar algumas das limitações contábeis do ROIC tradicional. O objetivo é tornar o indicador mais fiel à realidade econômica e mais comparável entre empresas.

Esse ajuste envolve a normalização dos dados contábeis, como:

  • Capitalização de pesquisa e desenvolvimento (P&D);
  • Ajuste de arrendamentos (leasing);
  • Ajuste de impostos.

O ROIC Ajustado é uma ferramenta de análise mais profunda, utilizada por analistas profissionais para obter uma visão mais precisa da performance.

Qual é a diferença entre ROI, ROE e ROIC?

Essas três siglas podem confundir muita gente pela semelhança. Por isso, trazemos as explicações aqui:

  • O ROI (sigla para Return on Investment) está relacionado ao retorno de um projeto ou investimento específico. Basicamente, é o retorno percentual de um investimento pontual;
  • ROE (Return on Equity) é a relação entre lucro líquido e patrimônio líquido, e mede o retorno apenas sobre o capital próprio dos acionistas;
  • O ROIC considera a rentabilidade sobre todo o capital investido – próprio e de terceiros –, sendo uma métrica mais abrangente da eficiência operacional e financeira da gestão.

Quando o ROIC de uma empresa é superior ao custo do capital de terceiros após os impostos, o uso da dívida tende a ampliar o retorno sobre o capital próprio (ROE).

Esse fenômeno é conhecido como alavancagem financeira positiva. Em outras palavras, ao financiar parte de seus ativos com recursos de terceiros a um custo menor do que o retorno obtido sobre o capital total investido, a empresa potencializa o ganho dos acionistas.

Nessas condições, cada real de capital próprio gera um lucro líquido proporcionalmente maior, elevando o ROE acima do ROIC.

Por outro lado, quando o ROIC é menor que o custo da dívida líquida de impostos, ocorre alavancagem financeira negativa, e o uso de endividamento reduz o retorno sobre o capital próprio, transferindo parte do valor criado para os credores.

Inclua o ROIC em suas análises

O ROIC é um dos principais indicadores de qualidade empresarial, pois revela a capacidade da empresa de transformar capital investido em retorno operacional.

No entanto, a análise isolada do ROIC é insuficiente: é fundamental considerar sua relação com o WACC, o contexto setorial, a geração de caixa e os múltiplos de mercado.

Em síntese, boas empresas geram ROIC consistentemente acima do WACC, mas bons investimentos surgem quando, além disso, o preço de mercado ainda não reflete plenamente esse desempenho.

Lembre-se de sempre contextualizar o indicador, comparando-o historicamente e com seus pares de setor. Com o tempo, o ROIC se tornará uma de suas bússolas mais confiáveis na navegação pelo mundo dos investimentos.

Economista, especialista em valuation. Professor convidado do Coppead/UFRJ, FGV e Faculdade HUB. É sócio-fundador da ConfianceTec e da Escola de Finanças Aboim.
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