nov, 2025 Investimentos

Margem bruta: o que é, quais os tipos e como calcular

Luiz Guilherme Aboim

A margem bruta é um dos indicadores com os quais investidores precisam se familiarizar. Afinal, ele aponta, entre outros resultados, se uma empresa tem uma boa estratégia de precificação e se está lucrando com as suas vendas.

No entanto, essa é apenas uma versão bastante simplificada do papel do indicador em uma análise de ativo. Por isso, se você quer realmente entender os detalhes da margem bruta e a sua importância para quem investe, recomendamos que continue a leitura deste artigo.

O que é a margem de lucro bruta?

A margem bruta é um indicador financeiro que mostra quanto da receita obtida nas vendas permanece na empresa depois de descontados os custos diretamente ligados à produção ou aquisição dos bens e serviços comercializados, conhecidos como Custos dos Bens Vendidos (CBV).

O conceito de margem bruta varia conforme o tipo de empresa – comercial, industrial ou prestadora de serviços.

No caso de uma empresa comercial (como Pão de Açúcar, Casas Bahia ou Vibra), a margem bruta indica quanto a empresa retém na revenda de cada real faturado, após cobrir o custo de aquisição das mercadorias.

Em uma empresa industrial (como Ambev ou Usiminas), a margem bruta reflete a eficiência produtiva e de precificação, ou seja, quanto a companhia mantém depois de absorver o custo total de fabricação de seus produtos.

Já em uma prestadora de serviços (como Cemig, Telefônica, Totvs ou Rede D’Or), a margem bruta expressa a eficiência operacional direta, mostrando quanto sobra da receita após remunerar os recursos humanos e materiais diretamente envolvidos na prestação do serviço.

É importante salientar que a margem bruta reflete exclusivamente quanto uma companhia tem ganhado em cada venda, antes de considerar despesas administrativas, financeiras, impostos ou outras deduções indiretas.

Para que serve a margem bruta?

A margem bruta serve para que investidores e analistas consigam entender o quanto a empresa realmente ganha com sua atividade principal (produzir e vender) antes de considerar despesas administrativas, financeiras e impostos. Nas análises, é um dos indicadores mais diretos de eficiência operacional.

Em geral, quando essa margem é alta, significa que a empresa tem bom controle de custos e consegue precificar bem seus produtos e/ou serviços.

Em resumo, a margem bruta é importante, pois serve para:

  • Comparar desempenho ao longo do tempo e identificar com mais precisão se o aumento das receitas vem acompanhado de maior eficiência ou de custos crescentes;
  • Avaliar a competitividade do negócio em relação a empresas do mesmo setor;
  • Detectar mudanças estruturais, como variações no custo de insumos, produtividade ou estratégias de preço;
  • Guiar decisões estratégicas, que servem de base para ajustes de preço, lançamento de novos produtos e otimização de processos produtivos;
  • Avaliar a sustentabilidade do crescimento, para observar se a expansão das vendas de uma empresa está sendo acompanhada por rentabilidade real.

Quais são os 3 tipos de margem de lucro?

Os três tipos de margem de lucro são:

  • Margem bruta;
  • Margem operacional;
  • Margem líquida.

Em conjunto, essa hierarquia de margens ajuda investidores a entenderem em que nível da operação ou da gestão os custos ou ineficiências podem estar causando um impacto na lucratividade de determinada empresa.

Para entender a função de cada margem em uma análise, veja abaixo uma tabela comparativa:

Tipo de margem O que é? O que revela sobre a empresa?
Margem bruta Mede quanto da receita permanece após a dedução dos custos diretos de produção ou compra de mercadorias. Indica a eficiência operacional básica do negócio, pois mostra se a empresa consegue produzir e vender com lucro sobre o custo direto.
Margem operacional Considera o lucro obtido após subtrair todas as despesas operacionais (como administrativas, comerciais e de vendas), mas antes dos juros e impostos. Mostra a capacidade de gestão e eficiência operacional total, além de refletir o desempenho do negócio principal sem interferência de fatores financeiros ou tributários.
Margem líquida Mede o lucro final que sobra após o desconto de todos os custos, despesas, juros e impostos. Indica a rentabilidade final da empresa e mostra quanto realmente se converte em lucro líquido para os acionistas. É a visão mais completa da lucratividade.

Qual a diferença entre margem de contribuição e margem bruta?

A margem bruta é o lucro que sobra depois de descontar os custos diretos de produção dos produtos e serviços vendidos. Já a margem de contribuição (MC) representa quanto sobra da receita após deduzir custos e despesas variáveis, ou seja, o montante que contribui para cobrir os custos fixos e gerar lucro.

A margem de contribuição (MC) pode ser expressa de duas formas: absoluta (em valor) e relativa (em percentual).

A fórmula para calcular a margem de contribuição é a seguinte:

MC = Receita Líquida − (Custos Variáveis + Despesas Variáveis)

A fórmula para calcular a margem de contribuição relativa é a seguinte:

Margem de contribuição (%) = (Receita Líquida – Custos e despesas variáveis)/(Receita Líquida) x 100

Essa versão mostra a parcela de cada real vendido que permanece disponível para cobrir os custos fixos

Os custos e despesas variáveis são aqueles que aumentam ou diminuem diretamente com o nível de atividade da empresa, ou seja, variam proporcionalmente ao volume produzido, vendido ou de serviços prestados.

Nas empresas industriais, os custos variáveis incluem principalmente matérias-primas, insumos diretos, energia e mão de obra variável, enquanto as despesas variáveis estão ligadas a comissões de venda, fretes e tributos sobre faturamento.

Nas empresas comerciais, o custo variável é o custo de aquisição das mercadorias revendidas (CMV), acompanhado de despesas como fretes, comissões e taxas sobre vendas.

Já nas empresas de serviços, predominam custos variáveis associados à mão de obra diretamente envolvida na execução do serviço, além de materiais e outros insumos operacionais específicos, somados a despesas variáveis como comissões e impostos incidentes sobre a receita.

Assim, a margem de contribuição leva em conta somente os custos e despesas variáveis associados às vendas, ou seja, esse indicador mostra o que sobra para cobrir custos fixos e gerar lucro.

Dito de outro modo, a margem de contribuição indica quanto do preço de venda “contribui” para pagar os custos fixos da empresa e depois formar o lucro, enquanto a margem bruta indica quanto já sobra no “nível de produção ou aquisição”.

Quanto ao uso e papel em análises, a margem de contribuição costuma figurar em decisões de mix de produtos, precificação e análise de rentabilidade por item. A margem bruta, por outro lado, dá uma visão mais geral da eficiência da operação principal.

Qual é o percentual ideal da margem bruta?

Não existe um percentual ideal fixo para margem bruta que se aplique a todas as empresas ou setores. Afinal, essa avaliação depende do modelo de negócio, da estrutura de custos, do poder de precificação e também da concorrência em cada segmento. Além disso, esse indicador precisa ser analisado em conjunto com outros fatores.

Em geral, quando a margem bruta é mais elevada em comparação com a média do setor ou com o histórico da própria empresa, temos um sinal positivo. Isso porque o valor tende a indicar maior controle de custos, precificação e eficiência.

Por exemplo, se o setor de varejo trabalha tipicamente com margens brutas de 30% e uma empresa desse setor apresenta 40%, isso pode indicar vantagem competitiva.

Por outro lado, margens que estão abaixo da média de mercado ou em queda contínua demandam atenção, pois podem significar o oposto: aumento de custos, erosão de preços ou perda de eficiência.

Lembre-se: não é recomendável avaliar a margem bruta isoladamente, pois ela mostra apenas uma parte da história. Uma empresa pode ter uma margem bruta alta e, ainda assim, apresentar baixo lucro líquido se suas despesas administrativas, financeiras ou tributárias forem elevadas.

Da mesma forma, margens brutas menores não necessariamente significam má gestão. Alguns setores, como supermercados e companhias aéreas, operam com margens estreitas por natureza, mas compensam isso com grande volume de vendas ou alta rotatividade de estoque.

Fica então o reforço de que uma análise deve sempre considerar o contexto operacional, o modelo de negócios e o comportamento histórico do indicador.

E mais: mudanças na margem bruta precisam ser interpretadas à luz das estratégias da empresa. Uma redução temporária pode ser resultado de investimentos em expansão, ajustes de preço para ganhar mercado ou até de um aumento deliberado nos custos com insumos de melhor qualidade – fatores que podem gerar valor no longo prazo.

Por que a margem bruta importa para empreendedores e investidores?

Para empreendedores, a margem bruta importa porque mostra se o negócio está gerando lucro suficiente nas vendas para cobrir os custos diretos e sustentar as demais operações. Sem isso, a empresa opera “no fio da navalha”, digamos assim.

Já para investidores, a margem bruta vem para revelar a eficiência da empresa em sua essência operacional, antes de levar em conta decisões financeiras ou tributárias. Em geral, interpreta-se que uma empresa com boa margem bruta tende a ter mais capacidade de investir, resistir a choques e gerar retorno no longo prazo.

Além disso, a margem bruta permite comparações entre empresas e setores. Assim, investidores usam esse indicador para avaliar quem está melhor posicionado e mais eficiente em termos de estrutura de custos e precificação, o que acaba sendo um diferencial competitivo relevante.

Como calcular a margem bruta?

A fórmula para calcular a margem bruta é a seguinte:

MC = Receita Líquida − (Custos Variáveis + Despesas Variáveis)

Lembre-se: aqui, a receita líquida é o valor efetivo que a empresa obtém com suas vendas, após deduzir tributos, devoluções e descontos concedidos. Com esse valor, é possível fazer comparações entre empresas semelhantes ou partes do mesmo setor.

No entanto, há uma maneira mais eficaz de encontrar a margem bruta — na DRE, que é a Demonstração do Resultado do Exercício.

Onde encontrar a margem bruta na DRE?

Em uma DRE, o lucro bruto já vem destacado nas primeiras linhas do relatório, logo abaixo da Receita Líquida de Vendas e do Custo dos Bens Vendidos (CBV).

Essa estrutura do documento é padronizada, então fica mais fácil para você localizar o valor exato sem precisar fazer estimativas ou correr o risco de errar o cálculo.

Importante: consultar o lucro bruto diretamente pela DRE é mais seguro do que tentar calcular por conta própria, pois o demonstrativo segue normas contábeis oficiais e utiliza dados auditados, ou seja, evita erros de interpretação ou distorções por fontes não confiáveis.

Além disso, algumas empresas possuem ajustes contábeis, reclassificações ou receitas não operacionais que podem confundir quem tenta apurar tudo isso manualmente.

Recapitulando os pontos mais importantes…

A margem bruta costuma ser o ponto de partida para entender se uma empresa ganha dinheiro com o que realmente vende. Afinal, ela reflete a eficiência produtiva e comercial, e mostra o quanto sobra da receita após cobrir os custos diretos de produção. É o primeiro sinal de força ou fragilidade no modelo de negócios.

Por ser um indicador diretamente ligado à operação, a margem bruta ajuda a identificar tendências cedo — como aumento de custos, perda de competitividade ou melhorias de eficiência. No entanto, seu valor real está na análise em conjunto com outras margens e indicadores. Não se esqueça: jamais analise um indicador de forma isolada.

Economista, especialista em valuation. Professor convidado do Coppead/UFRJ, FGV e Faculdade HUB. É sócio-fundador da ConfianceTec e da Escola de Finanças Aboim.
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